Por Gustavo de Oliveira

O contexto material do nosso mundo influencia diretamente tudo o que fazemos. Essa ideia parece óbvia, mas às vezes é esquecida quando falamos de arte. Artistas são “gente como a gente”, sentem o que acontece ao seu redor e são afetados diretamente pelo contexto em que estão inseridos. Nos anos 2020 esse sentimento ficou ainda mais intenso, graças à aproximação cada vez maior entre artistas e público pela internet, quanto pela pandemia de Covid-19, da qual foi praticamente impossível sair ileso (principalmente nos aspectos psicológicos). Muitas obras são e foram feitas sob esse momento do planeta e expressam de forma muito visceral o que seus autores estavam sentindo.

Este é o caso de Post Human: Survival Horror, lançado em 30 de outubro de 2020 pela banda britânica Bring Me The Horizon. Formado em 2004, em Sheffield, na Inglaterra, o grupo ficou conhecido por suas constantes variações musicais, que passam do deathcore ao metalcore, e incorporam elementos de rock alternativo, pop eletrônico e música experimental. Consequentemente, eles se tornaram uma das bandas mais inovadoras e influentes do rock moderno, por saber se alinhar e compreender as transformações pelas quais o mundo passa.

O disco de 2020 foi totalmente produzido de forma isolada na pandemia, principalmente por Oliver Sykes, vocalista da banda, e pelo tecladista Jordan Fish. Vivendo em uma época de incertezas, medo e isolamento, o álbum captura o espírito do tempo de uma sociedade em crise. O contexto fez com que o trabalho fosse uma reflexão sobre a condição humana em tempos de adversidade extrema. Seu conceito musical reflete uma fusão de gêneros, algo característico da banda, que vai desde o metalcore e o nu metal até o pop eletrônico e o rock alternativo. Essa mistura de estilos é utilizada para criar uma ideia de desorientação e caos do mundo moderno.

Esses sentimentos são transmitidos pelas letras de Post Human: Survival Horror. Elas abordam temas de medo, raiva, resistência e sobrevivência, frequentemente usando metáforas de guerra e apocalipse para refletir sobre o estado do mundo. Por exemplo, a faixa de abertura, “Dear Diary”, descreve uma espécie de “inferno na Terra” sob um viés literal e metafórico, que serve para ilustrar a realidade distópica da pandemia. Já na faixa seguinte, “Parasite Eve”, a banda explora o conceito de inimigo invisível que ataca a sociedade e a individualidade humana. A música traz uma narrativa influenciada por filmes de terror e transmite esse medo personificado pelo vírus.

Essas ideias não se limitam às características mais específicas da pandemia, mas a todo o contexto que cerca a vida humana em sociedade. Em “Teardrops”, a banda aborda a insensibilidade e o entorpecimento emocional que são experimentados em um mundo hiperconectado, onde a quantidade de estímulos é tão grande que nos tornamos incapazes de sentir.

Post Human: Survival Horror é uma obra que captura o espírito de uma era marcada por múltiplas crises. Porém, ele se posiciona como algo além de um simples reflexo do tempo em que foi criado — é uma resposta a ele. Com este trabalho, a banda solidifica sua posição como uma das vozes mais relevantes e inovadoras da música moderna, capaz de transformar o medo e a ansiedade de uma geração em arte poderosa e provocativa.

Clique AQUI e ouça Post Human: Survival Horror

 

 

 


Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.

Fotos (capa e mídia): Wallpapers
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