Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
É possível o amor sem o toque. Amor à distância não é virtude passiva, mas sentimento sublime. O desejo sem a posse pode aprofundar a sensação do desejo. E aprofundar o sentimento naquele que almeja o objeto amado. Ter aquilo que se quer, nem sempre é sinônimo de amor verdadeiro ou sentimento profundo. Sabemos, já há muito tempo, que o tédio chega logo para quem encontra aquele que ama.
Ouso dizer que o amor só se realiza à distância. Amante e objeto amado precisam estar a quilômetros para que se opere a verificação do sentimento: posto à prova, o amor não vacila, se verdadeiro.
Amar em presença não é amor: é desejo ordinário e corriqueiro. Amor em permanência tampouco é amor: é conveniência. E há uma conveniência em amar lado a lado.
Amar separado é que é para os fortes: ser capaz de permanecer no luto por aquele que morre. Sexo, beijos, carícias: tudo é consequência da carne. Mas amor é outra coisa. É negação do corpo em sua materialidade.
Nem objeto, nem desejo, nem personalidade: amor é ausência na ausência do outro. O amor se faz ao contrário. É de dentro de si mesmo que o amor floresce, e não de fora. O outro é um sol, mas que deve habitar apenas dentro daquele que ama. Para que a luz chegue no outro, onde quer que o outro esteja.
Miniensaios de Filosofia, volume: Amor, Existência & Morte, cap. XIII, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
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