Por Gustavo de Oliveira
A década de 1960 foi definidora de muitas tendências do universo musical. Uma delas foi o surgimento e formação do que ficou conhecido como power trio. Essa era a nomenclatura para bandas de rock formadas por três integrantes e que seguiam determinados padrões, como um grande apelo comercial, performances exageradas, domínio completo de seus instrumentos e a formação de bateria, baixo e guitarra. Outro aspecto bem evidente (apesar de não ser algo que faça parte do conceito de power trio) era que esses grupos eram formados majoritariamente por homens. Porém, nada como o passar dos anos para que as transformações possam ser alcançadas.
Em 2024, talvez o rock e suas iniciativas tenham sido deixados de lado pelos holofotes da indústria musical. Ainda assim, alguns artistas conseguem se aproveitar de seus conceitos para subverter tudo que foi criado antes. É o caso de boygenius, um power trio formado por Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker, três estrelas da música indie que vivem o auge de suas carreiras e que decidem colaborar entre si para criar um universo de possibilidades por meio da criatividade. O disco the record, lançado por elas ano passado, é literalmente um registro de sua capacidade artística, de sua sensibilidade e cumplicidade.
Ao contrário das estrelas do rock que pareciam distantes nas décadas de 1960/70, as boygenius utilizam o espaço de troca e coletividade para encontrar um espaço confortável para suas vulnerabilidades. As narrativas descritas nas músicas muitas vezes podem soar bastante óbvias e conhecidas, porém elas estão lá para demonstrar que as experiências podem ser universais e compartilhadas. As artistas se complementam, mas também se sobrepõem, quase que numa demonstração de entendimento entre si, pois a intenção das três ao unir suas forças não é apenas exibir o que cada uma é capaz de fazer, e, sim, encontrar os pontos em que elas se entendem e conseguem se apoiar umas nas outras.
Algumas canções vão percorrer a síndrome do impostor e a posição de inferioridade social em que as mulheres são colocadas, como em “Not Strong Enough”. Outras vão falar das experiências religiosas e das amizades que encontramos nelas, como “Satanist”. Ou até mesmo sobre como é possível encontrar forças e segurança ao estar cercado por uma rede de apoio, como em “Letter To An Old Poet”. Mas, no final das contas, o que elas têm em comum é a inventividade e a capacidade de ser sutil quando necessário ou explícitas quando desejam. The record é um disco cheio de desejos e muito simples para quem já acompanha as artistas em suas carreiras solo. Porém, ele traz uma abordagem única e um lugar seguro e aconchegante para quem deseja conversar com amigos.
Confira AQUI o clipe da música “True Blood”.
Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.