Por Marcella Erédia e Natasha Lima
Os curtas-metragens podem servir de porta de entrada e ferramenta experimental para diretores, produtores e estúdios. Mas, também, integram um universo próprio composto pela diversidade técnica, de estilos e de países de origem.
Com profissionais cada vez mais capacitados e o acesso às novas tecnologias, as produções não se resumem a entretenimento. Ainda que de forma sutil ou por meio de metáforas, os curtas podem trazer reflexões, ensinamentos e até mesmo abordar temas complexos, como saúde mental, guerras e política.
Essa pluralidade é ainda maior quando falamos das animações. Com muita criatividade, estúdios tradicionais ou independentes criam mundos inteiros para contar suas histórias com riqueza de detalhes. Além disso, são produções de fácil circulação, pois estão disponíveis na internet de forma gratuita.
Nesta edição do Cine Sofá, trazemos três curtas-metragens que exemplificam esse tipo de trabalho: La Noria, que aborda o processo de luto e superação de um jovem menino; Alike, que fala sobre a padronização da vida e a busca por felicidade; e, finalmente, Tokri, que discorre sobre amor, perdão e saber lidar com sentimentos como frustração, medo e rejeição.
Com certeza você vai se apaixonar e se identificar com alguma dessas histórias!
La Noria (2018)
Direção: Carlos Baena
Estúdio: Nightwheel Pictures
Disponível no YouTube
La Noria, ou A Roda-gigante, em português, conta a história de um menino que brincava sozinho em seu quarto. Ele tenta construir uma roda-gigante de brinquedo, mas acaba interrompido por horripilantes criaturas que lhe causam muito medo.
Enquanto foge dos tais monstros, o menino esbarra em memórias do falecido pai. No decorrer da trama, ele vai sendo encurralado por diversos sentimentos e precisa encontrar forças para enfrentar a situação.
Carregado de metáforas, La Noria conduz o telespectador por uma jornada de luto e superação. De forma muito delicada, aborda a temática da depressão e oferece um show de expressividade em computação gráfica.
O projeto foi idealizado pelo animador espanhol Carlos Baena que, com a colaboração de mais de cem artistas, conseguiu tornar o curta realidade e conquistar prêmios em festivais ao redor do mundo.
Alike (2015)
Direção: Daniel Martínez Lara e Rafa Cano Méndez
Estúdio: La Fiesta P.C.
Disponível no YouTube
O curta conta a história de Copi, um homem dedicado que divide os seus afazeres entre o trabalho e os cuidados de seu filho, Paste. Os dois vivem em uma cidade grande e enfrentam juntos os encargos do cotidiano.
Copi se esforça para ensinar o caminho certo ao seu filho. Ele deseja que Paste se torne um bom cidadão e, consequentemente, um bom profissional. Mas o que isso significa na prática? E a que custo pode ser alcançado? São alguns dos questionamentos trabalhados em Alike.
A história foi criada em animação 3D e usa as cores para expressar a personalidade de suas personagens. Quando estão diante de manifestações artísticas e criativas, por exemplo, o mundo se torna mais colorido e menos padronizado.
O curta foi desenvolvido por diretores e animadores espanhóis, mas já ganhou fãs em todo o mundo. Sua poderosa narrativa é usada em escolas, empresas e universidades para promover debates e inspirar projetos ligados à diversidade.
Tokri (2020)
Direção: Suresh Eriyat
Estúdio: Studio Eeksaurus
Disponível no YouTube
Tokri, ou A cesta, em português, narra a história de uma garota simples que mora com a família em Mumbai, na Índia. Após quebrar acidentalmente um objeto de grande valor sentimental para seu pai, ela sai nas ruas da cidade em busca de uma solução para o problema.
Durante esse processo, a personagem passa por algumas situações e tem de conviver com sentimentos como insegurança, frustração e tristeza, ao mesmo passo que lida com o medo de decepcionar quem ela ama.
De forma simples, mas emocionante, acompanhamos o amadurecimento da garota diante dos seus erros e a estreita e tocante relação entre pai e filha.
A animação, que é toda feita em stop motion, impressiona pela delicadeza e beleza dos detalhes. Ela é exemplo da qualidade técnica e criativa das produções independentes, e mostra que o cinema indiano vai muito além de Bollywood.