Por Gustavo de Oliveira

Alguns artistas são bons em produzir o que o público vai gostar (e não existe nenhum demérito nisso). Outros conseguem produzir algo tão bom, que dobra a vontade do público e o fazem gostar do que criam, independentemente de sua roupagem ou aparência. Formado em 1985, o Radiohead é uma banda que conseguiu transpor sua inventividade para um grande número de ouvintes, aliando sucesso com criatividade. Ou seja, é um grupo que sabe lidar muito bem com os movimentos do mercado musical e em como expor sua singularidade de uma forma bastante palatável – mesmo que ela se apresente das mais estranhas formas.

Porém, em 2007 a banda deu um passo importante, que definiu não apenas o seu futuro, mas o de toda a indústria musical. No dia 1º de outubro daquele ano, Jonny Greenwood, guitarrista da banda, anunciou no site oficial do Radiohead que o próximo disco seria lançado nove dias depois. Junto do comunicado, havia um link para cadastro, e, ao preenchê-lo, você receberia um e-mail com instruções para adquirir o álbum e escolher qual valor pagaria por ele (incluindo a opção de não pagar nada). No dia 10 de outubro foi lançado In Rainbows, sétimo disco da banda, que foi de encontro a tudo o que a banda já havia criado e ao que o mundo considerava a maneira certa de vender música.

Ao contrário de outras obras da banda, In Rainbows pode ser considerado um álbum de fácil audição. Suas experimentações são colocadas de uma maneira muito agradável e fácil de compreender, quase que usando medidas homeopáticas de criatividade. Porém, isso não o transforma em um disco pobre de novidades. Nele é possível encontrar tudo que a banda desenvolveu durante sua trajetória, como as construções de clímax e variações de ambiência com o alcance vocal de Thom Yorke e as colocações minuciosas de sons instrumentais em momentos específicos. É música de fácil degustação, mas que claramente tem muita complexidade em sua construção.

Em uma análise superficial, pode parecer que essa aproximação a algo mais simples fosse atrair mais atenção. Porém, devemos atentar que In Rainbows foge da perspectiva construída pelo público da banda, o que torna essa mudança um movimento muito corajoso, ainda mais quando levamos em conta o inovador modo de lançamento do disco. O medo de mudar fica muito evidente em diferentes composições no decorrer do trabalho. “15 Step”, que abre o álbum, fala sobre como a vida pode tomar rumos repentinos e que raramente esperamos. A faixa seguinte, “Bodysnatchers”, aborda a maneira como muitas vezes somos obrigados a assumir uma identidade que não nos representa.

Esse tipo de questionamento é o motor que direciona grande parte de In Rainbows. Mas, além disso, a dúvida da banda conseguiu ser contornada numa direção que foi além do que eles esperavam, não apenas para eles, e sim para todo o mundo, tanto aqueles que produzem quanto aqueles que consomem.

Clique AQUI e ouça In Rainbows.


Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.

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