Por Gustavo de Oliveira
A realidade material é uma das principais matérias-primas para a produção artística (talvez a principal). Durante toda a história da humanidade, grandes acontecimentos históricos influenciaram diretamente os processos artísticos de sua época. Guerras, revoluções, invenções, descobertas, tudo isso ajuda a pensar e criar arte das mais diferentes formas. Durante o século XX isso não foi diferente, principalmente entre os anos 1960 e 1970, durante a Guerra do Vietnã. No cinema, tivemos grandes obras como Apocalypse Now, Nascido para Matar e O Franco-Atirador. Na música, essa influência não foi diferente, e em 1970 a banda britânica Black Sabbath lançou seu segundo e mais importante disco, chamado Paranoid.
O grupo surgiu em Birmingham, Inglaterra, uma cidade industrial que teve um papel relevante na definição do som da banda. Lidando com um ambiente opressor e sombrio para a classe trabalhadora, suas músicas acabaram sendo um reflexo desse sentimento. Então, as letras debatiam a influência da guerra, da desigualdade e das condições econômicas precárias do período histórico. Esse contexto também estava presente diretamente nos processos criativos da banda. O processo de gravação de Paranoid foi notavelmente rápido, sendo feito entre junho e julho de 1970, em um estúdio em Londres. Isso deve-se ao fato de que os músicos eram relativamente inexperientes e enfrentavam pressão financeira. O curto tempo de estúdio significava que eles tinham que trabalhar de maneira rápida e eficiente, o que contribuiu para o som cru e urgente do disco.
Uma das principais músicas do álbum, “War Pigs”, é uma crítica feroz à guerra e ao militarismo, trazendo um discurso que se refere ao envio dos jovens para batalhas que muitas vezes não fazem sentido. A canção contrasta entre momentos lentos e pesados e passagens mais rápidas e agressivas, o que cria uma tensão que reflete perfeitamente o tema da canção. Outro grande clássico da banda que também está presente no disco é “Iron Man”. Nela é contada a história de um homem que viaja no tempo e testemunha o apocalipse, mas ao retornar ao presente, é ignorado e transformado em metal, tornando-se responsável pela destruição que havia previsto. Esse sentimento de desespero e de um suposto fim do mundo é uma constante de um mundo em guerra, logo seria um tema fortemente presente no trabalho de uma banda diretamente afetada por esses contextos.
A guerra modifica a realidade material, mas também afeta o campo das ideias e a mentalidade de quem a vivencia, seja no campo de batalha, seja fora dele. Em “Paranoid”, faixa-título do álbum da banda, essa perspectiva é apresentada. A letra, que fala sobre ansiedade e a sensação de alienação, foi inspirada pela própria experiência de um dos integrantes com a depressão e a paranoia. Em “Electric Funeral”, o tema abordado é o medo constante de quem vive sob a tutela do conflito armado, já que parece que tudo pode acabar em um estalar de dedos.
Mais de 50 anos após seu lançamento, Paranoid continua a ser um álbum fundamental para a história da música como um todo. Esse álbum é um testemunho da capacidade da música de capturar a atmosfera de uma época e transformá-la em algo universal e duradouro, sendo um poderoso documento histórico e artístico que continua a ressoar no presente.
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Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.