Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
Vontade é algo alheio a mim mesmo, posto que toda vontade é imperativa. E a vontade, como vontade livre, não existe. Não se escolhe o desejo; portanto, não se escolhe a vontade; é preciso aceitar que não estamos livres e rever o conceito de que estamos livres para querer e desejar. E é preciso rever que o desejo seja um desejo livre.
Não há vontade que nos liberte. Só há vontade que nos prenda: estamos presos ao desejo. Vontade, desejo, necessidade: há um determinismo em ser quem nós somos.
Não escolhemos nossa pátria, nossa língua, nossos valores ou nossa biologia. Defecamos quando não desejamos, comemos quando não desejamos, padecemos quando não desejamos: é nosso corpo quem nos comanda. Amamos, choramos e odiamos quando não desejamos: é nossa mente quem nos dita as regras.
Nosso ideal de beleza é herança, nosso ideal de excelência é herança, nosso código genético é herança: vontades externas que nos constituem e nos enganam — passamos a pensar que somos nós esses outros que em nós habitam. Alteridades em nós mesmos, não importa se inscritas em nosso corpo, e em nossas células, ou em nossas culturas, almas ou mentes. São sempre outros querendo pela gente. Não passamos de uma identidade indefinida.
A consciência não existe.
Miniensaios de Filosofia, volume: Desejo, Vontade & Racionalidade, cap. V, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
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