Por Gustavo de Oliveira
A arte nos permite um encontro muito prazeroso, em que elementos ordinários do cotidiano se mesclam com tudo de incrível que a criatividade artística pode oferecer. É o caso de Harold Halibut, um jogo que foi lançado recentemente, mas que com certeza vai figurar por muito tempo na memória daqueles que o jogarem. E isso graças ao que ele apresenta dentro dele e pela forma como foi produzido.
Este é um jogo narrativo em que você joga com o protagonista Harold em um futuro pós-apocalíptico no qual ele vive em uma nave espacial que foi transformada em uma cidade submersa em um oceano de outro planeta. Porém, o que mais chama a atenção, além de sua história, é seu histórico de produção.
Todos os personagens e cenários do jogo foram feitos com objetos reais — seus desenvolvedores utilizaram uma técnica chamada fotogrametria para levar esses objetos para o mundo digital, a fim de poder animar os cenários e os personagens. Essa tarefa levou mais de dez anos para ser concluída. O mais interessante dessa técnica é que ela digitaliza junto dos objetos as marcas dos dedos que trabalharam nessas esculturas e algum tipo de falha não percebida, deixando muito claro que tudo que está presente no jogo foi trabalhado por muito tempo e com um carinho praticamente artesanal.
Além desse aspecto visual incrível, o que deixa Harold Halibut realmente especial são as escolhas. Entre elas, a de construir um mundo ficcional que reflete muito bem a realidade social, política e ambiental em que o mundo real se encontra. Porém, a principal das escolhas é abrir mão de qualquer tipo de conflito. E não necessariamente de conflito entre os personagens, mas entre jogador e jogo.
Dentre todas as tarefas e missões que encontramos no jogo, não vamos nos deparar com quebra-cabeças, combates ou qualquer outro desafio em que exista falha. Mas, sim, com uma oportunidade para contemplar tudo que o jogo faz para se aproximar de quem joga. Seja pelo cuidado visual com os personagens, que são extremamente carismáticos e tratam de assuntos muito comuns no cotidiano de todos, seja pela forma como ele conta uma história cheia de esperança.
Harold Halibut parece um jogo que deseja iniciar uma amizade com o jogador, e não transmite isso apenas por meio da narrativa, mas também por suas escolhas de design e gameplay. Ele abre mão do atrito, do conflito e da maldade para tentar apresentar uma perspectiva diferente do que um jogo de videogame pode ser. E assim como uma amizade, tudo que precisamos fazer para ele funcionar é compreender suas características e dar uma chance a ele.
Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.