Por Marcella Erédia e Natasha Lima

Peça a qualquer pessoa para fazer uma lista contendo as dez coisas que mais gosta de fazer. É bem provável que viajar apareça entre os primeiros itens. Isso porque sair de casa e explorar novos lugares não é apenas sinônimo de lazer e diversão. É também uma oportunidade de superar desafios, buscar o autoconhecimento e (re)conectar-se com a vida.

No cinema não é diferente. Sempre carregadas de boas narrativas, as produções que abordam viagens como tema central nos permitem conhecer novas culturas, descobrir aspirações e refletir sobre a importância de valorizar as experiências de cada dia.

Nesta edição, apresentamos dois filmes que trazem diferentes perspectivas sobre o viajar. Em O Caminho, um pai que acaba de perder o filho parte em uma aventura em busca de respostas, seguindo os passos de Santiago de Compostela. Em Jornada da Vida, um artista embarca em um processo de autoconhecimento e ressignificação, de volta a suas raízes no Senegal.

Seja qual for o seu atual objetivo, permita-se conhecer novas histórias e passear, mesmo que remotamente, pelos lugares mais lindos do mundo. Muitas vezes, um bom filme é de que precisamos para traçar novas metas, criar coragem e iniciar as mudanças que nos ajudarão a aproveitar, cada vez mais, essa grande jornada chamada vida.

O Caminho (2010)
Direção: Emilio Estevez
Elenco: Emilio Estevez (Daniel), Martin Sheen (Tom), Deborah Kara Unger (Sarah), James Nesbitt (Jack) e Yorick Van Wageningen (Joost)

O filme conta a história de Thomas Avery, um oftalmologista bem-sucedido e atarefado, que perde o seu único filho, Daniel, em um terrível acidente. Diferente do pai, Daniel queria viajar o mundo e conhecer novas culturas, mas seu sonho é interrompido por uma inesperada tempestade, enquanto percorria os Caminhos de Santiago, na Espanha.

Diante de tal notícia, Tom viaja para a Europa com o objetivo de recuperar o corpo de seu filho. Entretanto, ao tomar conhecimento do plano de Daniel — andar mais de 800 km a pé até a Catedral de Santiago de Compostela, na Galícia —, decide completar sua jornada, levando consigo as lembranças e as cinzas do jovem.

Apesar da premissa trágica, o filme apresenta um enredo otimista, trazendo reflexões sobre a vida, os laços familiares e a valorização do presente. Ao longo de sua viagem, que, naturalmente, é repleta de desafios físicos e psicológicos, Tom acaba conhecendo outros peregrinos e os diferentes significados da caminhada para eles.

O longa tem como pano de fundo pequenas cidades espanholas e francesas, repletas de paisagens naturais e bucólicas. Ao mesmo tempo, faz uma grande homenagem aos Caminhos de Santiago, famosa rota de peregrinação cristã até Santiago de Compostela, que permanece ativa desde os tempos medievais.

Aqui vale uma observação: apesar de abordar uma tradição católica, O Caminho não é um filme religioso. Tanto a aventura de Tom como a de seus acompanhantes são marcadas pelo enfrentamento das adversidades. Nesta história, a viagem não é apenas uma distância a ser percorrida, mas todos os dias em que temos a oportunidade de estar vivos.

Jornada da Vida (2018)
Direção: Philippe Godeau
Elenco: Lionel Louis Basse (Yao), Omar Sy (Seydou Tall), Fatoumata Diawara (Gloria), Germaine Acogny (Tanam)
Disponível no Telecine

O filme narra a história de Seydou Tall, um artista francês de origem senegalesa que viaja ao Senegal para promover seu livro. Chegando lá, encontra Yao, um garoto que viajou cerca de 387 km sozinho apenas para conhecê-lo. Tocado pelo relato do garoto, ele se oferece para levá-lo de volta para casa.

A partir daí, começa uma grande jornada de descoberta. Seydou, que passou anos longe de seu país de origem, acessa uma realidade bem diferente da sua. Ocupando a imagem de “estrangeiro” e até de “homem branco”, ele se aproxima de suas raízes e passa a redescobrir sua identidade, tão presente nas cenas, diálogos e rituais, além de vivenciar a diversidade cultural e se encantar com as histórias que encontra pelo caminho.

A relação entre Yao e Seydou representa a troca de experiências, carinho e admiração, mas também o conflito entre dois mundos marcados pela segregação, construído desde a colonização. Um conflito que faz com que pessoas de mesma origem ocupem papéis opostos na sociedade, o que nos permite refletir sobre as consequências dessa construção social.

Protagonizado e produzido pelo ator Omar Sy, filho de mãe mauritana e pai senegalês, o filme possui certo caráter autobiográfico, com passagens leves e divertidas, mesmo quando trata de questões complexas.

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