Por Anderson Borges Costa

Você já deve ter ouvido falar na cultura do cancelamento, uma forma de excluir ou deletar uma pessoa, um grupo ou uma marca que tem o poder de influir. O cancelamento é consequência de uma atitude considerada inadequada, errada ou antiética. Woody Allen, um dos grandes diretores de cinema, foi cancelado há alguns anos. Sem entrar na questão do motivo de seu cancelamento, quero abordar um de seus filmes mais interessantes, Meia Noite em Paris.

Em primeiro lugar, uma observação sobre a tradução do título, que no original em inglês é Midnight in Paris. Portanto, em português, a tradução deveria ser Meia-noite em Paris (com hífen), certo? Só que não. No Brasil, o título ficou Meia Noite em Paris (sem hífen). Portanto, não se trata de “meia-noite” (que indica o horário exato), mas de “meia noite”, ou seja, a metade da noite. E é justamente nessa duração temporal que se passa o enredo.

É justamente na metade da noite que geralmente dormimos. É na metade da noite que sonhamos. E nos sonhos, muitas vezes, tentamos “corrigir” as frustrações da realidade. É o que faz no filme o inseguro escritor Gil Pender (Owen Wilson). Com sua noiva Inez (Rachel McAdams), cujos gostos e opiniões em nada coincidem com os de Gil, vai a Paris, cidade que idolatra. Não pelas lojas de roupas e móveis, mas pela cultura. À noite, frustrado, faz sozinho passeios pelas ruas da capital da França. À meia-noite, no meio da noite, Gil se vê transportado para ruas e bares da mesma Paris, só que nos anos 1920, a “época de ouro” francesa. E nos bares e casas, no meio da noite dourada da cidade, Gil conhece e se delicia com os principais escritores e artistas que então viviam na noite parisiense, como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Salvador Dalí. E, ao conhecer os artistas que tanto admira, acaba vendo seu talento literário ser apreciado justamente por seus ídolos. Para coroar a noite (na verdade, as noites, pois são várias as caminhadas noturnas de Gil), ele se apaixona por Adriana (Marion Cotillard), uma bela moça do início do século XX.

O questionamento inevitável é se a ilusão de uma vida diferente, no meio do frescor da noite, é melhor do que a luz do escaldante sol da atualidade. Essa discussão que o filme provoca não merece ser cancelada. Segure-se no sofá, pois cinema é movimento.

 

Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011)
Direção: Woody Allen
Estados Unidos/Espanha
Elenco: Owen Wilson (Gil Pender), Marion Cotillard (Adriana), Rachel McAdams (Inez), Adrian Brody (Salvador Dalí), Kathy Bates (Gertrude Stein)

Clique aqui para assistir ao trailer oficial.

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