Por Anderson Borges Costa

Em 2018 estive na Índia e, de todas as viagens que fiz aos cinco continentes, com certeza, essa foi a experiência em que me senti mais longe do Brasil. Apesar de, como o Brasil, ser um país ricamente pobre, a Índia se apresenta ao mundo com uma aquarela de cores bem distintas de nós. Para não perder de vista o gosto que o subcontinente indiano me trouxe, quero compartilhar com você um romance que veio na bagagem dessa viagem. Da jovem e premiada autora Arundhati Roy, O deus das pequenas coisas é a história de dois irmãos gêmeos, um menino e uma menina, que são obrigados a se separar, ainda crianças, para se encontrarem décadas depois.

Perceba que o romance é sobre a união, depois a separação, depois o reencontro. De dois irmãos gêmeos, separados durante a infância, quando a vida é guiada pela inocência. Mas a separação, em um dia comum, é um evento trágico. E é na separação que as crianças crescem, é na sombra que o ser humano amadurece. É na maturidade que os irmãos se reencontram.

A Índia é um país onde as pessoas se encontram, mas onde não é permitido que os diferentes se toquem. As castas (sistema que divide a sociedade em classes sociais hierárquicas e praticamente imutáveis) são coladas a cada pessoa de forma hereditária. Você nasce pertencendo a uma casta, e as castas vão lhe dar privilégios ou apenas deveres. A Índia é um muro que separa o mesmo país em vários países; que separa irmãos gêmeos ainda na inocência da infância.

O Brasil e a Índia denotam uma espécie de fraternidade, pois é possível que nos reconheçamos em muitos aspectos quando visitamos o país asiático. Mas, ao mesmo tempo que nos é muito familiar, a Índia nos causa um enorme estranhamento também. Assim como os dois países, os irmãos Esthappen e Rahel, no livro de Arundhati Roy, se sentem muito distantes, uma distância que se acentua pela semelhança entre si. Mas, ao se encontrarem, tentam tratar de uma ferida que teima em não cicatrizar. Arundhati Roy é uma ótima porta de entrada para a moderna literatura indiana. E uma forma bem interessante de nos mostrar que a Índia é aqui, a Índia não é aqui.

Boas leituras!

O deus das pequenas coisas, Arundhati Roy
Editora Companhia de Bolso

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