Por Marcella Erédia e Natasha Lima

Todos os anos diversos livros são adaptados para o cinema, mas nem todos os diretores conseguem ser bem-sucedidos nesse tipo de empreitada. Alguns enredos tornam-se simplórios ou simplesmente parecem não funcionar no formato audiovisual. Entretanto, quando bem executados, são trabalhos que conseguem levar obras literárias a novos patamares, tornando-as conhecidas pelo público mainstream.

As adaptações dificilmente superam os textos originais, mas, ainda assim, possuem um papel fundamental: divulgar grandes histórias e fomentar o interesse pela leitura. Quantas crianças foram impactadas pelo fantástico mundo de Harry Potter? Quantos adultos se apaixonaram por literatura com O Senhor dos Anéis? Por isso, não devemos tratar as adaptações como obras inferiores, mas sim como uma oportunidade de alcançar novos públicos por meio de novas linguagens.

Nesta edição do Cine Sofá, trazemos dois filmes inspirados em livros de autores do século XIX, Oscar Wilde e Jane Austen. São trabalhos escritos e ambientados na Era Vitoriana, uma época marcada por transformações sociais, políticas e econômicas na Inglaterra. Destacam-se aqui o enriquecimento da classe burguesa, a Revolução Industrial, a consolidação da Inglaterra como potência e a efervescência artística do país, a despeito do conservadorismo que imperava no período.

Tanto o O Retrato de Dorian Gray (2009) quanto Orgulho e Preconceito (2005) são filmes considerados adaptações de sucesso. Ambos conseguiram impulsionar a venda de livros e aumentar o interesse pelas histórias e os costumes da época. Conheça mais sobre cada um deles!

O Retrato de Dorian Gray (2009)
Direção: Oliver Parker
Elenco: Ben Barnes (Dorian Gray), Colin Firth (Henry), Ben Chaplin (Basil), Fiona Shaw (Agatha) e mais
Disponível no YouTube e na Amazon Prime

O filme conta a história de Dorian Gray, um jovem inglês do século XIX que pertencia à alta sociedade e se destacava por ser dono de uma beleza descomunal. Ao frequentar eventos de seu meio, ele acaba conhecendo duas figuras que mudam sua vida para sempre: o bon vivant Lorde Henry Wotton e o pintor Basil Hallward.

Enquanto Henry tenta despertar a malícia e a sensualidade de Dorian, mostrando-lhe o poder da aparência, Basil cria um retrato tão perfeito que é reconhecido como uma obra-prima. Diante da pintura, Dorian toma consciência de sua beleza, fica obcecado pela própria imagem e acaba verbalizando que estaria disposto a vender sua alma para ser jovem para sempre.

Seu pedido, de alguma forma, acaba sendo atendido. Com o passar do tempo, o quadro absorve não só o seu envelhecimento, mas também suas cicatrizes e a feiura de seus pecados. Logo Dorian passa a acreditar que é um deus e que não existem consequências para os seus atos. Entretanto, a vida não funciona dessa forma e, mesmo permanecendo jovem e belo, ele é cobrado por suas escolhas.

O filme é uma adaptação do livro de mesmo título escrito por Oscar Wilde, um dos maiores escritores da Era Vitoriana. A história é inspirada no mito de Narciso, personagem da mitologia grega, e na lenda do dr. Fausto, um médico alemão que teria feito um pacto com o diabo para ser bem-sucedido em suas empreitadas.

Apesar de Oscar Wilde ter sido adepto do esteticismo, corrente que prioriza a estética e se afasta do moralismo, sua obra fomenta diversas reflexões. Tanto o livro quanto o filme não têm a pretensão de dar um veredicto sobre o problema de Dorian, cabe ao leitor/telespectador dialogar com a obra e atribuir valor à história. Uma experiência encontrada em poucos trabalhos e que ressalta a grandeza de seu escritor.

Orgulho e Preconceito (2005)
Direção: Joe Wright
Elenco: Keira Knightley (Elizabeth Bennet), Matthew Macfadyen (Darcy), Rosamund Pike (Jane), Jena Malone (Lydia) e mais
Disponível na Netflix e no YouTube

O filme se passa na Inglaterra do século XIX e narra a história de Elizabeth Bennet, uma jovem inteligente e determinada que precisa lidar com o sonho da mãe: casar as cinco filhas com homens ricos e, assim, garantir sua ascensão social — plano comum na sociedade patriarcal da época.

Lizzie, no entanto, rejeita veementemente esse papel. Apoiada por seu pai e apaixonada pelos livros, a garota deseja mais que um casamento arranjado e uma vida dedicada à casa e ao parceiro. Ela sonha com independência, liberdade e amor genuíno, contrastando com o padrão social.

Em meio a esse cenário, chega à cidade um jovem rico e solteiro que desperta o interesse de sua irmã mais velha, Jane. Ele vem acompanhado do amigo, sr. Darcy. Este, um aristocrata charmoso, porém frio e grosseiro, que logo desenvolve antipatia por Elizabeth, devido a sua aparência e classe social. A partir disso, cria-se uma relação de amor e ódio entre as duas personagens.

Vale ressaltar que o título do romance elucida não só a postura de Darcy em relação a Elizabeth, mas também o contrário. Enquanto ele, inicialmente, representa a arrogância da alta sociedade da época e rejeita o que acredita ser inferior, Lizzie se mantém orgulhosa e demora a enxergar o aristocrata para além das aparências.

Apesar de o pano de fundo ser uma história de amor, Orgulho e Preconceito discute outras questões fundamentais. O preconceito de classe e relacionamento entre pessoas de status diferentes. A construção social do papel da mulher — por vezes reduzido a matriarca da família em um casamento promissor. E, é claro, o feminismo e a busca por igualdade, representados na figura forte de Elizabeth.

O livro é considerado um clássico e concedeu a Jane Austen lugar de destaque na literatura inglesa. Enquanto isso, a produção cinematográfica de 2005 é tida como uma das melhores adaptações do romance e garantiu diversos prêmios, incluindo uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Keira Knightley. Além dessa, foram feitas diversas outras versões — adaptações diretas ou indiretas — para o teatro, cinema, televisão e literatura.

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