Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti

No mundo há muitas armadilhas
e o que é armadilha pode ser refúgio
e o que é refúgio pode ser armadilha.
[Ferreira Gullar]

Agimos de acordo com nossos medos. É pela fuga do medo que construímos nossa ética. Se somos todos selvagens, estrangeiros uns dos outros ou lobos de nós mesmos, não há qualquer possibilidade de vida tranquila. E se não vivemos tranquilos, não há esperança. Porque da intranquilidade não nascem frutos. E por isso nos protegemos, buscamos abrigo num acordo com os outros. Mas até que ponto esta tranquilidade é realmente possível?

A solução hobbesiana para garantir a segurança à espécie humana foi a criação da sociedade, o estabelecimento de um contrato. Mas como entrar em socieade num mundo de selvagens? Não há qualquer garantia espontânea de que iremos nos manter em acordo por livre escolha. O que queremos sempre é usurpar o outro. Nossa ética é uma ética da necessidade. Hobbes estava enganado ao considerar que a criação de um soberano, materializado na figura de um rei ou de um Estado, seria capaz de nos aliviar o medo ou corrigir nossas condutas. Não, ao contrário: instaura um medo agora burocratizado, um medo que se traveste de segurança.

O filósofo inglês errou e, ao se equivocar, arrastou-nos todos para um buraco. Tirou do indivíduo a força violenta de sua individualidade e o submeteu ao jugo dos outros. Viramos escravos de uma entidade abstrata chamada governo. Somos peças inertes frente a uma ideia falsa e aniquiladora chamada democracia.


Miniensaios de Filosofia, volume: Ética, Medo & Esperança, cap. XI, editora Vozes, 2013.

Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]

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