Por Gustavo de Oliveira

A música popular brasileira — tanto como movimento artístico quanto como nomenclatura — é constantemente relacionada à bossa nova dos anos 1960. Movimentos como a Jovem Guarda e a Tropicália construíram esse imaginário e definiram por muito tempo o que seriam os ritmos considerados verdadeiramente nacionais. E apesar do viés nacionalista carregado por muitos anos pela MPB, ela soube se abrir para novas ideias e gêneros. Essa mistura foi responsável pela construção de sua identidade e, ao contrário do que muitos pensam, essa iniciativa não é algo que remonta a um passado distante. Atualmente existem artistas em solo nacional que produzem seus trabalhos baseados nessa experimentação, mas que não querem deixar de soar como brasileiros.

Ana Frango Elétrico, nome artístico de Ana Faria Fainguelernt, é uma jovem de 25 anos que faz parte do que a própria define como “pós-MPB”, uma “bossa pop rock decadente com pinceladas de punk”. Com três discos lançados, ela já foi reconhecida pela Associação Paulista de Críticos de Arte e pelo Grammy Latino. Em outubro, ela lançou seu mais recente trabalho, o álbum Me Chama de Gato que Eu Sou Sua, que conceitualmente segue a mesma ideia da MPB, ao voltar seus olhos para a música nacional dos anos 1980 e 1990 para construir registros originais e com toda a identidade particular do Brasil. Junto disso, encontramos um conjunto de composições que traçam de forma minuciosa temáticas como amor, relacionamentos, gêneros e todas as vivências que uma jovem pode encontrar em sua rotina.

As faixas compartilham o mesmo universo narrativo, seja em composição, seja em musicalidade, garantindo que o cerne emocional do disco seja sempre bem exibido. Apesar dessa coesão, ainda há muito espaço para a criatividade. Em algumas canções vamos encontrar flertes com a música eletrônica; em outras, uma passagem pelo jazz e blues. Já em outras, vamos encontrar o melhor da música soul. Essas passagens por diferentes meios também refletem os diferentes estados mentais em que encontramos a artista em cada faixa. Por exemplo, a tranquilidade de “Camelo Azul” se mistura na reflexão acerca de identidade de gênero e do fracasso em relacionamentos.

Mesmo jovem, Ana Frango Elétrico demonstra uma segurança enorme ao expor arranjos, melodias, ritmos e vozes totalmente diferentes entre si. Isso também vem graças ao seu trabalho como produtora ao lado de artistas como Sophia Chablau, Julia Branco e Bala Desejo. Ou seja, Ana desponta como alguém com grande controle criativo e conhecimento da música brasileira nas mais diferentes posições que uma artista pode ocupar. Me Chama de Gato que Eu Sou Sua é simultaneamente uma homenagem a tudo que foi construído em nosso país. Mas também é um aceno que mostra que o presente está em boas mãos e que o futuro pode ser ainda mais brilhante.

Clique AQUI e ouça Ana Frango Elétrico.


Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.

Share: