Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
O luto contém a morte de quem o sente. Uma parte de nós morre com o outro.
Nunca poderemos conhecer as pessoas com quem nos relacionamos. Abaladora constatação feita pela análise minuciosa do conhecimento. Não podemos saber tudo sobre uma pessoa – seu passado, seu pensamento, seus desejos e fantasias mais íntimas. Os outros sempre serão uma incógnita. Se não sabemos o que realmente acontece em nós quando o mundo nos afeta, imagine tentar descobrir no que o mundo transforma diariamente aqueles de quem gostamos…
Mas como podemos amar quem não conhecemos? Como sempre fizemos, criando expectativas sobre o outro e nos relacionando em essas expectativas. No amor, transferimos parte das nossas fantasias e afetos para uma pessoa. A imagem material percebida pelos sentimentos serve como suporte para as representações que fazemos da pessoa querida. Referências afetivas do nosso passado se sobrepõem a cada nova pessoa com que nos relacionamos. Damos uma parte de nós a ela.
Por isso, as dores que sentimos quando da perda de quem amamos são sentidas como se fossem dores em nós mesmos. E o são. Quando se perde alguém, perde-se a si próprio. E o outro morre em nós. No luto quem morre é a nossa fantasia, nossa representação, e não o mero corpo de quem gostamos.
O luto não é a morte em si, ou fora, no mundo: é a morte em nós.
Miniensaios de Filosofia, volume: Amor, Existência & Morte, cap. XV, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]