Texto | GUSTAVO DE OLIVEIRA
A internet se demonstra cada vez mais como um campo fértil para o compartilhamento da criatividade, para criação de matéria-prima artística e uma nova maneira de comunicação com o público. Isso fica bem evidente no trabalho de Charli XCX, cantora, compositora e produtora britânica que se consolidou como uma das artistas mais inovadoras do pop contemporâneo, com uma linguagem que se adequa às questões do mundo moderno e tecnológico.
Charli começou sua carreira lançando músicas na rede social MySpace, em meados dos anos 2000, chamando a atenção de produtores e gravadoras. Seu primeiro grande sucesso veio em 2012, quando coescreveu e participou da faixa I Love It, do duo Icona Pop, que se tornou um hit global. Apesar de seu sucesso no mainstream, Charli nunca se acomodou. Em seus trabalhos seguintes, como Pop 2 (2017) e Charli (2019), ela mergulhou profundamente na estética hyperpop, colaborando com artistas e produtores do coletivo PC Music, incluindo A. G. Cook e Sophie. Essas parcerias ajudaram a definir um som futurista e maximalista, caracterizado por vocais altamente processados, batidas caóticas e uma desconstrução radical da música pop tradicional.
Em 2024, a artista lançou um trabalho que elege de forma definitiva todos esses aspectos que fazem parte da sua carreira e direcionamento artístico. Intitulado brat, o álbum vai no caminho contrário de seu antecessor, Crash (2022), representando um retorno à sua essência mais crua e experimental. O disco celebra a cultura clubber e do underground eletrônico, trazendo influências do techno, house e da cena rave dos anos 1990 e 2000.
O processo de criação de brat foi fortemente influenciado pelo desejo de Charli de explorar a cultura clubber, que sempre esteve presente em sua vida e música. Inspirada por suas experiências em festas e raves ao redor do mundo, a sonoridade do álbum busca capturar a energia e a euforia desses espaços. A artista abraça uma estética lo-fi e direta, evocando o espírito DIY de seus primeiros lançamentos, mas com a maturidade artística que acumulou ao longo dos anos.
A estética visual e promocional de brat também reflete essa abordagem, com uma identidade visual minimalista, tipografia brutalista e um tom provocador nas redes sociais. Charli adotou uma postura mais irreverente e sarcástica em sua comunicação, reforçando o conceito do álbum como um manifesto de autenticidade e resistência às normas da indústria musical.
A recepção ao álbum reforçou a posição de Charli como uma das artistas mais influentes do pop alternativo. Críticos destacaram a capacidade dela de reinventar sua sonoridade sem perder sua essência, além de elogiar a produção arrojada e a coesão conceitual do projeto. Brat não apenas reafirma o talento inovador de Charli XCX, mas também consolida sua posição como uma das vozes mais autênticas e vanguardistas da música pop contemporânea.
Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.
Diagramação | RONALDO CAMPOS
Foto | Wallpapers/Divulgação