Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti

Os desejos se convertem em símbolos. Imagens, palavras e gestos indicam nossas inclinações inconscientes.

Ontem, ao sair do jardim de uma casa e entrar na floresta, percebi que os animais mudavam de cor. Um estranho fenômeno: do preto e branco iam aos poucos se tingindo com as cores do arco-íris. No final de uma trilha chego às margens de um rio. Leitoso, sua composição me intriga. Olhando para a direita vejo uma cachoeira. A enorme queda d’água transbordava leite. Próxima à fonte vejo uma jovem nua, banhando-se. Tinha uma feição familiar. Quando percebe minha presença se assusta e diz aflita: você me deseja?

Ao levantar da cama, pela manhã, percebo que as imagens oníricas simbolizam algo. Entendo que a saída da casa simboliza o término de meu relacionamento, que as cores dos animais manifestavam meu desejo de converter a tristeza em alegria. Ao sair de casa e tomar meu habitual café da manhã na padaria reconheço a bela garota do sonho, que no dia anterior, vendo-me triste a tomar café, tocou-me carinhosamente, pôs seus dedos em meu rosto, abriu um sorriso e me disse: que tal um pouco de leite?

Há uma coisa para se aprender com os sonhos: seus símbolos são verdadeiras vias de acesso para os desejos.


Miniensaios de Filosofia, volume: Desejo, Vontade & Racionalidade, cap. X, editora Vozes, 2013.

Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]

Foto capa de Daniele Fasoli/Unsplash
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