Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti

O medo é uma ficção do pensamento. Isto significa que o medo não pode ser algo real em si mesmo. De modo que o temor não é algo palpável ou objetivo – e nem pode sê-lo, às ameaças palpáveis e visíveis damos o nome de perigo. Assim, só pode haver medo em nossa subjetividade. Podemos entender o medo como fruto de nossa imaginação.

Embora habite nossa subjetividade, existe, no aprendizado do medo, uma relação com o mundo objetivo. Quando sentimos tão pungentes o temor e o medo, fazemos uma ponte entre a objetividade a subjetividade usando como ferramentas o poder de nossa racionalidade e o poder de nossa imaginação. Dizer que neste processo há um aprendizado é o mesmo que dizer que o medo não nos é uma sensação inata. Criamos e cultivamos o medo porque aprendemos do mundo, através das relações entre seus objetos, o conceito de causalidade. Compreendemos que uma coisa leva à outra, e que existem certas causas para determinadas consequências.

Utilizamos esse aprendizado das relações causais e transferimos essas relações para o mundo subjetivo no qual também habitamos. Acreditamos que determinadas coisas reais podem ser causas de malefícios irreais, ameaças imaginadas ou fantasias de nossa mente criadora – é neste momento que fazemos surgir em nós a expectativa de que algo ruim nos aconteça. Ter medo é viver essa apreensão total, no encontro do sujeito com o seu racional delírio.


Miniensaios de Filosofia, volume: Ética, Medo & Esperança, cap. XXIII, editora Vozes, 2013.

Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]

Foto de Aarón Blanco Tejedor/Unsplash
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