Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti

O amor é limitado pela linguagem. Querendo expressar certos sentimentos, somos incapazes de fazê-lo com palavras.

E é penoso saber que algo tão bom e intenso não pode, e nem poderá, ser transmitido a outras pessoas. O que sinto é meu, intimamente meu, e igual não pode ser em nenhuma outra pessoa. Estaria toda humanidade condenada ao autismo afetivo?

Acreditar que existem pessoas que conseguem exprimir, melhor que outras, o que sentem é mera ilusão. O poeta, no fundo, é um astuto ilusionista. O psicólogo, um ingênuo blefador.

Espanta-nos que alguns filósofos tenham pensado nos afetos de modo lógico-matemático. Alguns dizem que o amor se dá na gratificação que temos em sentir a felicidade de quem se ama. A pessoa amada é causa de nossa felicidade, e quando quem amamos fica feliz, nós também ficamos felizes.

Esta lógica parece coerente. Sou feliz com a felicidade alheia. Sou feliz através de quem amo. Entretanto, e aí caímos em uma armadilha, esta mesma filosofia diz que, por consequência geométrica, deveríamos ficar felizes se o objeto amado se tornar feliz com outra pessoa… Pobres espinozanos… Explicar o afeto é o delírio da razão…

Mas o que sentimos então? Poderá o amor ser explicado satisfatoriamente alguem dia?

Um bom cético responderia “talvez”, pois sabe que, independentemente da resposta, seguimos existindo e, com sorte, amando.


Miniensaios de Filosofia, volume: Amor, Existência & Morte, cap. VII, editora Vozes, 2013.

Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]

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