Por Arthur Meucci Flávio Tonnetti
Não existimos sozinhos. A figura do outro sempre nos segue em nossas jornadas. Mesmo no mais íntimo isolamento, é presença que nos acompanha na ausência.
A existência do outro nos impregna. É no olhar do outro que nos constituímos. Que somos desejados. Através do outro é que nascemos. Quando nos sentimos sós, estamos sós em relação a alguém. A falta que sentimos do outro se impõe de modo afirmativo: a saudade é algo presente, figura real, e não uma inexistência.
Solidão é uma pessoa que existe em nós, da qual sentimos falta, e que existe na ausência percebida pela própria ausência. Eis o grande paradoxo existencial da solidão.
Para haver uma solidão absoluta seria preciso existir somente por si mesmo, sem nunca entrar em contato com o outro. Mesmo que consigamos esta impossibilidade – uma existência desalojada do mundo – o ser que existe nunca se existiria sozinho. Afinal, para ele, não haveria nada do que sentir falta. Isto porque a solidão absoluta pressupõe uma existência única. Um erro lógico. Impossibilidade frente à realidade.
Sempre existiremos nos olhares daqueles que nos rodeiam. Os que nos rodeiam permaneceram em nossa existência mesmo na ausência, pois são definidores do “estar só”. Deste estranho sentimento ilusório. Fantasma imaginário que persegue nossas vidas, já que o medo da solidão não tem fundamento racional. Não há solidão genuína para aquele que existe.
Miniensaios de Filosofia, volume: Amor, Existência & Morte, cap. XIV, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
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