Por Anderson Borges Costa
A contracultura é o movimento de nadar contra as ondas do mar, empurrar para escanteio conceitos impostos pelo sistema ora no poder, dizer não ao governo, ao chefe, aos pais, à política nefasta, ao conservadorismo. Se você pensa que a contracultura surgiu nos anos de 1950, 1960 e 1970, com os hippies, com os beatniks, com os punks, a literatura nos mostra que houve um livro que pode ter inspirado os rebeldes acima mencionados muitos anos antes. Falo da singela narrativa Knulp: três histórias da vida de um andarilho, escrita pelo autor alemão, mais tarde naturalizado suíço, Hermann Hesse, e cujo enredo se passa no fim do século XIX. Knulp foi um hippie, um habitante da sociedade alternativa, um libertário dos costumes, advogado da paz e do amor sem fronteiras.
O livro de Hesse, autor premiado com o Nobel de Literatura em 1946, é composto de três curtas histórias que narram a vida do protagonista Knulp. Ele é um jovem descolado, que não se encaixa nos moldes nos quais a sociedade europeia enquadrava as pessoas na sua época. Knulp era independente, dono de seus próprios passos, solto de regras sociais.
A grande virtude de Knulp é a sua personalidade: com seu jeito solidário, simpático e carinhoso, ele conquista todos ao seu redor. É um andarilho, não trabalha, se hospeda na casa de amigos, onde recebe teto e comida. Knulp vive um dia por vez, uma vida inteira em um dia, sem se preocupar em olhar para o futuro, sem administrar suas finanças nem sua saúde. A vida de Knulp é um sonho a cada dia. Porém, ele se recusa a estabelecer conexões duradouras, não alimenta relações permanentes. Knulp é um eterno “Carpe Diem”, que carimba a efemeridade dos prazeres imediatos em sua trajetória.
As três histórias de Knulp são lidas em três goles, que podem ser degustados com solidariedade, paixão e alguma rebeldia.
Boas leituras!
Knulp: três histórias da vida de um andarilho (título original: Knulp: Drei Geschichten Aus Dem Leben Knulps), Hermann Hesse
Tradução: Julia Bussius
Editora Todavia
Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.