Por Heloísa Alves de Carvalho
Estava tomando uma xícara de chá, enquanto esperava o recreio acabar em uma sala cheia de professores como eu, cansados de dar aula e crianças desinteressadas, papeando e conversando… Bateu o sinal e o abençoado intervalo tinha acabado. Saí em direção a próxima sala que iria dar aula, a qual estava me dando trabalho nos últimos meses, principalmente na última aula. Dei um suspiro ao chegar à porta. A sala parecia uma zona de guerra e as vozes das crianças quase aos berros acompanhavam o cenário.
O menino que, na aula anterior estava exibindo uma caneta brilhante, veio até mim com raiva e começou a falar: “Profe, alguém pegou a minha caneta! E eu tenho quase certeza que foi o Pedro que pegou, porque foi ele que pediu pra ver antes do recreio. Vai falar com ele, porque eu quase bati nele! Mas até saber que é ele, não posso fazer isso”. Eu estava tão chocada com o que vi e ouvi nos últimos segundos que só fui capaz de soltar um “quê?” estrangulado. Arthur, o menino foi roubado, me olhou impaciente, e quando entendi a situação e pensei com desespero o que raios faria, comecei a falar alto e repreensiva, para ele e para a sala, batendo palmas: “Pessoal! Pessoal! Pessoal! Todos sentados agora!”
Eles me ouviram, olharam para mim e para minha cara zangada, sentaram e ficaram quietos bem rápidos. Arthur começou a reclamar de novo, mas mandei-o sentar junto com a turma. Falei alto para todos ouvirem: “Gostaria de começar a nossa aula hoje de um jeito diferente. O que para vocês é respeito?” Ana Clara, uma aluna inteligente, levantou a mão e respondeu: “Minha mãe me ensinou que respeito é saber que o seu direito acaba quando o do outro começa”; “Muito bem”, respondi. Lucas também levantou a mão: “Respeito é fazer para alguém o que você gostaria que fizessem com você”. Dei um sorriso em resposta aos comentários e perguntei: “Mais alguém?” Cabeças balançando em negativa. “Bom, gostaria de falar que respeito é um princípio! Um princípio como a honestidade, gentileza e integridade. Um princípio é a base de quem somos, algo que nos guia em nossas ações, pensamentos e hábitos. Por exemplo, quem acha errado bater no amigo?”
Muitas mãos se levantaram, a do Arthur não. Perguntei a ele o porquê dele não achar errado e ele me respondeu: “Porque acho que isso é meio que a forma de dar justiça a alguma coisa, tipo quando roubam a sua caneta, ou quando soltam um pum fedorento no seu lado.” A sala soltou risadinhas. Eu dou um meio sorriso, mas o corrijo: “Geralmente, Arthur, coisas assim precisam ser resolvidas no diálogo. E quem de vocês acha errado roubar alguma coisa do colega?” Muitas mãos se levantaram “Isso é também outro princípio, a honestidade. Os princípios em nossa vida moldam o nosso futuro e presente. O futuro que vocês querem é possível com os princípios que vocês têm hoje?”
Depois dessa pergunta, Pedro se levantou com rosto culpado, entregou a caneta, pediu desculpas para Arthur e se sentou envergonhado. Dou um sorriso orgulhoso a sua atitude e falo: “Bons princípios são o segredo para sermos pessoas melhores. Agora, pensem comigo. Quando você tem uma bússola, ela não serve para dizer onde ir?” Cabeças acenando. “Então pensem que os princípios, principalmente o respeito, nos dizem o que fazer em diversas situações. E esses princípios são a chave para um convívio melhor.” Após uma pausa, disse “Agora, queridos alunos, peguem seus cadernos…”
Colégio : ETEC GUARACY SILVEIRA
Aluna: Heloísa Alves de Carvalho – 2º ano do Ensino Médio
Texto vencedor do 2º lugar do Projeto Escrita 2019