Por Isadora Sorva Rosa Costa

Acabo de testemunhar uma cena esquisita, mas tão esquisita, que vou te contar!
Até mesmo um velho moído como eu, que já viu de tudo nesses oitenta anos de vida, não
imaginaria que chegaria a ver tal coisa: uma menininha, beirando ali os seus sete meses
de idade, com olhos e dedos frenéticos numa tela maior que a sua própria cabeça. Perdoe-me se eu estiver sendo careta minha neta mais nova já me disse isso , mas já se foi a época em que o cordão umbilical era formado por veias e artérias; agora, são aqueles
fulanos fios USB!

Acredito que a criança estava apenas entretida com as cores do aplicativo de
estourar bolhas, pois nem falar ela sabia. No máximo, insistia em dar uns gritinhos de vez
em quando, como se fosse a coisa mais divertida do mundo. Entretanto, a mãe, que a
carregava, com toda certeza não estava se divertindo. Seu rosto denunciava
aborrecimento, e infelizmente, por mais curioso que eu seja, não consegui entender o
porquê daquela expressão amarrada, mas chuto que seja algum problema com aqueles
tais bancos digitais, coisa que minha filha vem há semanas me azucrinando para abrir
uma conta. “Mas pai, a beleza que é não precisar sair de casa para resolver coisas de
banco, não ter que olhar ‘pra cara de tacho de ninguém…” Ora essa! A minha maior
felicidade é a caminhada que faço para ir até a agência! De vez em quando até levo uns
bombons para os funcionários e temos uma conversa de verdade, sem sinais elétricos
intrometidos.

E digo mais: esse negócio de “não olhar ‘pra cara de tacho de ninguém” é o maior
perigo. Tenho um amigo, coitado, que por várias vezes foi enganado nessa web gigantesca,
por gente fingindo ser quem não é. Afinal, é bem mais fácil mentir quando não se olha
nos olhos. É que a internet é tão rápida, tão prática, que ninguém mais quer saber da
complexidade das relações cara a cara, de ouvir e interpretar. Muitas vezes, só uma
manchete bem sensacionalista no Facebook é o suficiente para tornar uma notícia
verdadeira. Assim são as pessoas: como aquela garotinha, entretendo-se facilmente com
tão pouco!

Agora, eu hei de avisá-lo que haverá um dia em que o cordão umbilical nem
existirá mais. A rede wireless tratará de fazer tudo sozinha!


Isadora Sorva Rosa Costa é aluna do colégio Colégio Pedro II – Campus Tijuca II/RJ e ficou em 2º lugar, na 5ª edição do Projeto Escrita 2021, com o texto O cordão umbilical. Clique aqui para saber mais sobre o Projeto Escrita.

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