Por Marcella Erédia e Natasha Lima
Fundado em 1985 por Hayao Miyazaki, Isao Takahata e Toshio Suzuki, o Studio Ghibli ficou conhecido como um dos estúdios mais bem-sucedidos no quesito animação. Desde a sua primeira produção, O Castelo no Céu (1986), ele tem alcançado números impressionantes de bilheteria e conquistado fãs ao redor do mundo.
Seu sucesso é fruto da originalidade de suas produções, que levam não só qualidade técnica e inovação digital, mas também narrativas repletas de ensinamentos e referências à cultura japonesa.
Nesta edição do Cine Sofá, selecionamos quatro produções de destaque para quem pretende começar a desbravar o universo Ghibli. A lista inclui o seu maior sucesso, o filme A Viagem de Chihiro, e ainda Meu Amigo Totoro, Túmulo dos Vagalumes e Princesa Mononoke.
Vale lembrar que o estúdio conta com outras inúmeras animações, de diferentes estilos e para todos os gostos. Você não vai se arrepender!
Meu Amigo Totoro (1988)
Direção: Hayao Miyazak
Disponível na Netflix
O filme conta a história de duas irmãs, Mei e Satsuki, que se mudam com o pai para uma casa de campo no interior do Japão. Isso acontece para que eles possam estar mais próximos da mãe, que está muito doente e internada em um hospital da região.
Apesar dessa premissa dramática, o longa se desenrola de forma leve e otimista, sendo considerado um dos trabalhos mais alegres e apaixonantes de Hayao Miyazaki.
O filme não traz uma grande aventura, um plot twist ou um vilão a ser combatido. Ele mostra o dia a dia das duas garotas, em especial da Mei, a irmã mais nova, e como elas lidam com sentimentos como a solidão, a incerteza e a saudade da mãe.
Mesmo não tendo um enredo tradicional, Meu Amigo Totoro encontra um caminho no imaginário infantil. Logo que as irmãs chegam à nova moradia, passam a acreditar que estão cercadas por fantasmas e criaturas mágicas.
Felizmente, os adultos deste universo não só acreditam nas meninas, como as incentivam a continuar explorando os mistérios da natureza, o que serve de escape para a fase ruim que estão enfrentando.
A personagem Totoro, o troll que protege a floresta, protagoniza os momentos mais fantásticos da narrativa. Ele se tornou um símbolo tão forte da importância da imaginação para o Studio Ghibli que acabou sendo escolhido como mascote da empresa.
Em suma, Meu Amigo Totoro é uma grande homenagem de Hayao Miyazaki à magia da infância. Uma divertida história criada para encantar pessoas de todas as idades. E, definitivamente, parada obrigatória para quem deseja mergulhar no universo Ghibli.
Túmulo dos Vagalumes (1988)
Direção: Isao Takahata
Disponível no YouTube
Túmulo dos Vagalumes é bem diferente dos demais títulos apresentados neste artigo. Apesar da animação artística e delicada, também presente em outros trabalhos do estúdio, o longa aborda uma temática muito mais séria e realista: os horrores da Segunda Guerra Mundial.
A animação conta a história de dois irmãos, o pré-adolescente Seita e a sua irmã mais nova, Setsuko, que lutam para sobreviver em uma região que é constantemente bombardeada por aeronaves aliadas.
Por meio de sua trajetória, os dois órfãos da guerra personificam histórias reais. O drama de crianças que tiveram a vida e a infância roubadas por conflitos políticos internacionais. Uma herança triste que precisa ser conhecida para que nunca volte a acontecer.
A temática de guerra é comum em filmes japoneses. Afinal, o seu povo foi profundamente marcado por eventos como a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.
Embora o Studio Ghibli já tenha trazido reflexões sobre o assunto em outros trabalhos, como em Porco Rosso: O Último Herói Romântico (1992), é em Túmulo dos Vagalumes que somos convidados a enfrentar o pior da humanidade.
Curiosamente, o filme foi lançado no mesmo dia em que Meu Amigo Totoro, seu extremo oposto, considerado o trabalho mais fantástico e otimista do Studio Ghibli, e que também é protagonizado por duas irmãs.
Além de demonstrar a versatilidade do estúdio, Túmulo dos Vagalumes é um exemplo de que as animações não estão restritas ao público infantil. Ao tratar de temas como a morte, a violência e a fome, o filme prova que o lado humano da guerra não depende de grandes efeitos especiais para ser mostrado, mas sim de uma boa história.
Princesa Mononoke (1997)
Direção: Hayao Miyazaki
Disponível na Netflix
O filme se passa no Japão, em um período conhecido como Muromachi (de 1336 a 1573) e narra a história de Ashitaka, um príncipe que é amaldiçoado ao lutar contra um demônio que ameaça seu povoado. Segundo o Oráculo, caso não encontre a cura, a marca feita em seu braço lhe trará ódio e dor e, eventualmente, o levará à morte. Ashitaka parte, então, rumo à floresta dos deuses.
No caminho, ele depara com um vilarejo chamado Ilha do Ferro, comandado por Lady Eboshi, uma líder admirada por todos, que comanda a exploração de ferro e a fabricação de armas. Ashitaka descobre, no entanto, que para manter seu ritmo de produção, Lady Eboshi trava uma guerra com os deuses da floresta e segue, cada vez mais, destruindo animais e a vegetação do lugar.
Na posição contrária está San, também conhecida como Princesa Mononoke, uma jovem humana que foi criada por lobos e que luta para proteger a natureza e os espíritos do local custe o que custar.
Considerado por muitos uma obra-prima do Studio Ghibli, Princesa Mononoke é um filme cheio de ação e personagens fortes. Traz não só uma crítica à exploração exacerbada dos recursos naturais, mas também uma reflexão sobre o exercício da empatia e do perdão e da importância de vivermos em harmonia com o meio ambiente.
O filme foi lançado em 1997, mas é, sem dúvida, uma produção à frente de seu tempo. Une história, fantasia e protagonismo feminino — presente na liderança de Lady Eboshi e na figura de San — e segue, ainda hoje, no topo da lista de favoritos do Studio e do diretor Hayao Miyazaki.
A Viagem de Chihiro (2001)
Direção: Hayao Miyazaki
Disponível na Netflix
O filme é um dos trabalhos mais aclamados e conhecidos do Studio Ghibli e da animação japonesa em geral, tendo levado, inclusive, o Oscar de Melhor Animação em 2003. Ele narra as aventuras de Chihiro, uma menina de 10 anos de idade que acaba presa em um mundo mágico após uma exploração malsucedida em um antigo parque de diversões abandonado.
Separada dos pais — que comeram o que não deviam e viraram porcos, enfeitiçados por uma velha bruxa —, Chihiro se vê sozinha e com muito medo. É quando ela encontra Haku, um aprendiz de feiticeiro que promete ajudá-la a salvar sua família e voltar para casa.
O problema é que para que Chihiro possa alcançar seus objetivos, ela precisa sobreviver no novo mundo e enfrentar a tal bruxa, motivo pelo qual ela acaba tendo de abrir mão do próprio nome para trabalhar em uma casa de banhos para deuses, espíritos e outras criaturas mágicas.
Ao longo da história, a pequena garota é submetida a diversas experiências inusitadas, passando por uma série de lições morais, como a importância do amor, da empatia e da própria personalidade. Esses aprendizados a conduzem a um rápido amadurecimento.
Um dos pontos altos do filme refere-se a sua arte e fotografia, não só pela beleza das personagens e pelas referências à cultura japonesa — como as casas termais que existiam antigamente —, mas também pela técnica usada na animação. Por vezes, a impressão que se tem é de que algumas cenas foram retiradas de quadros.
A Viagem de Chihiro é uma das produções com maior bilheteria da história da animação japonesa, e segue até os dias de hoje conquistando fãs ao redor do mundo. Não é para menos. O filme é bonito, sensível e complexo. Possui tantas camadas que é quase impossível entender todas as simbologias sem conhecer com certa profundidade a cultura japonesa.
Sem dúvida, é um filme que merece ser visto mais de uma vez, com a certeza de que sempre iremos observar e aprender algo novo.