Os olhos dele são grandes, enigmáticos, tal como um abismo que te volve na mistura da vertigem com a vontade de jogar-se. Precipícios oculares que seduzem. Seus olhos quando me olham, contornam, retornam. Os nossos olhos. O que veem?

Suas mãos contornam instrumentos, moldam sons, pintam meu corpo de uma cor que ainda não foi catalogada. Suas mãos e meu corpo, meu contorno, meu rosto. Mãos que quando seguram as minhas me têm como um universo em colapso, caótico. Nossas mãos. Não nos prendemos a nada.

Os versos cantados, falados, as filosofias vividas e discutidas da mente dele. Não mente. Não minto quando digo que futuro não existe. Ele mente quando diz que só gosta de mim. As nossas mentes, mentiras.

O meu riso genuíno, o seu semblante sugestivo, nossos dias tranquilos. Eu sonho com ele, mas não me entrego completamente aos seus braços, mantenho sempre um olho aberto. Quem sabe? Nada é certo. Estamos mudando…

Resisto, não confio, porque uma tarde de verão muito quente sempre anuncia uma grande tempestade. Me molha, corpo e coração inundados na metáfora da água de uma cena que ele me mostrou. Não acredito em futuro, mas temo perdê-lo.

Abra ou deixe fechado, a gente mantém o êxtase do individual: não somos um. Frequência harmônica, não igual, afinal, estamos livres e ainda sim voltamos para perto um do outro. Do todo, nada está fincado ao peito como estaca de madeira para nos punir.

“Amor da Vida” é a própria vida que nos tem como amantes, supérfluos. Não estamos fadados a amar, amamos por desafio. Amo. Tudo o que é material e metafísico não cabe na palavra amor. O que eu sinto não pode ser catalogado como amor. Sinto.

Meus olhos dissimulados forjam, não escondo o que me arde por dentro, em vão escrevo esse texto. Palavras mal escolhidas na tentativa de falar sobre amor, sobre nós. Uma folha cheia de letras, o que queremos dizer?

Camila Barreto, 17 anos
Cursando o 3º ano do ensino médio na ETEC PROFº BASILIDES DE GODOY
Um agradecimento especial à minha professora de literatura Carol Parra pelo incentivo.

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