Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
Construímos socialmente os desejos. É através da relação que o corpo humano tem com as instâncias sociais que canalizamos nossos impulsos e pulsões.
Ninguém seria tolo de dizer que o desejo de alimentar-se é algo que se ensina. Fome não se aprende. Nascemos com instintos essenciais para a vida, como comer e dormir.
Porém, os desejos se situam para além das necessidades primordiais. O leite no seio da mãe, que não dura para sempre, é substituído por papinhas, sucos, pão, carne, chocolate e tantas outras coisas que vão aos poucos substituindo o seio.
Embora ninguém, em sã consciência, incentive os filhos a trocar o leite por fezes, iremos aprender, durante nossa infância, o que podemos ou não comer. E também o modo como faremos isso. Aprenderemos em quais lugares dormir. Perceberemos que a questão dos nossos desejos ultrapassa nossos instintos.
Para desejar se vingar, viajar, fumar ou comprar um carro é preciso um complexo trabalho social que fará o meio-termo entre os símbolos autorizados e as nossas cobiças. Considerando também aquelas que nos são socialmente impostas, criamos angústias, porque muitas das coisas que desejamos não existem realmente. E muito do que desejamos não é essencial à vida. Perceberemos que grande parte dos desejos irracionais que nos movem foram criados e sustentados por uma sociedade que nos adestra. Somos adestrados em nossa intimidade.
Miniensaios de Filosofia, volume: Desejo, Vontade & Racionalidade, cap. IV, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
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