Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
Beijar é uma sublime manifestação do afeto amoroso. Gesto interessante, surpreendente e rico de significados e sensações.
Se amar é sentir, beijar é começar.
Mas o que há de tão surpreendente nas trocas entre bocas? Nessa mútua exploração de lábios e línguas por sensações em busca de cheiros e sabores?
No encontro com o outro é que está a surpresa do beijo.
Embora muitas sejam as formas de prazer, os prazeres são, em sua maioria, individuais. Comer, beber, correr, dormir e se acariciar – entre tantas outras possibilidades – são atividades em que desejo e gozo se satisfazem narcisicamente. São prazeres pessoais.
O beijo não: é diferente. Afinal, não podemos beijar a nós mesmos. Há limites físicos para isso. Precisamos do outro para compartilhar este prazer. Uma segunda pessoa para tirar do ato o que há de mais gostoso. É preciso alguém, objeto do desejo, em quem se confie, para se lançar nesta jornada. Uma parceria especial, erótica, amorosa, com quem se possa compartilhar uma mútua sensação de prazer.
Beijar o outro é bom em si mesmo. No próprio ato. Com ou sem segundas intenções. Puro erotismo oral compartilhado. Por isso, mesmo se pudéssemos nos beijar, esse beijo ensimesmado seria sem graça, pois não haveria o encontro inesperado, representado pelo outro. Não há bonecas ou bonecos infláveis capazes de nos satisfazer neste quesito.
Beijar é, portanto, uma aventura afetiva. Uma manifestação que busca no outro uma confirmação de amor mútuo, que inicia relações e apazigua brigas. Beijar gera recomeços. E nos faz distintos dos outros animais. O beijo é a chave da compreensão da vida.
Beijar é se relacionar pela via do amor.
Miniensaios de Filosofia, volume: Desejo, Vontade & Racionalidade, cap. X48VII, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]