São Paulo é uma imensidão. Ao prezar pela nossa rotina, muito da cidade nos escapa e locais, espetáculos, livros, conversas, curiosidades e filmes podem trazer experiências novas e diferentes com o mundo. Aqui, neste recanto, compartilharei com vocês um pouco daquilo que encontro pela cidade.
Nesta edição, trago dois textos de multiartistas que decidiram se embrenhar pela prática da escrita. O primeiro, de Rafael Limongelli, nos conta um pouco da experiência de atuar na organização da Flipei – Festa Literária Pirata das Editoras Independentes. O segundo é de um poeta que organiza um clube de leitura, Jerônimo Bittencourt. Ainda temos dicas de Slams e Saraus, livros de poetas brasileiras e mais indicações de novos nomes da nossa poesia contemporânea. Aproveito para indicar espetáculos em cartaz e saraus que ocorrerão em setembro e outubro. Vamos nessa?
Mainá Santana, Sub-editora de Cultura
OUTROS MODOS PARA O PRESENTE
Por Rafael Limongelli*
Últimas horas na cidade imperial
O calmo quadro da pizzaria de Paraty — uma paisagem realista simples, popular, feita por algum de seus muitos artistas-moradores do centro histórico — dispara para uma pequena garoa, leve e sutil, criando pequenas poças de água entre os pedregulhos que compõem a morfologia vertiginosa de suas ruas; ao longo desta, as tão charmosas casinhas de portões retangulares e largos, com janelas magistrais, tudo bem pintado ao estilo imperial, uma mesa na beira de uma esquina, sinais maçons discretos; dentro da casa, um café caloroso e vazio, um tom bucólico e convidativo para a reflexão da boa razão, um homem branco de terno sentado à mesa, uma mulher negra na janela atende ao pedido. A lua ao fundo.
A calmaria é atravessada pelo lancinante som das sirenes de polícia. Passam em procissão sentido a algum lugar (sempre desconhecido e distante da vida imperial do centro de Paraty). É uma hora da manhã, o centro histórico encerra suas atividades, domingo, última noite da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), os policiais se espalham para notificar as casas parceiras, bares e outras aglutinações de que já basta, hora de recolher, a Flip acabou. Paraty e todo o charme de cidade de pescadores, com seus restaurantes de comida caseira, suas cachaças de alambique, seu charme trôpego dos flertes à meia-luz pelas ruelas, volta a ser uma das cidades mais violentas do Estado do Rio de Janeiro, com maior número de mortes por armas de fogo. Crianças indígenas que se empilham por todos os cantos de todos os eventos internacionais que o centro histórico recebe, cantando suas potentes tradições em troca de alguns trocados e comida, voltam paras as periferias sem demarcação de terra. Nas chuvas e garoas, o que se forma em muitas comunidades da cidade do litoral carioca são esgotos a céu aberto transbordando, linhas de ônibus que deixam de circular, desabamentos etc.
Há algum tempo a Flip tem se dedicado a construir um ambiente em que a literatura, prima renegada da família dos livros, conquista espaço de discussão, apreciação e consumo. Pessoas viajam através do Brasil para presenciar palestras, minicursos, trocar exemplares com autores e autoras que a duras penas publicam suas prosas, poemas e ensaios sobre e em literatura. Poder-se-ia dizer de um flanco de resistência editorial! Ledo engano. Ao que parece, com raras exceções, a casas tradicionais continuam convidando seus colunistas brancos, velhos, letrados, doutos, a programação oficial custa a enegrecer sua curadoria (com exceções que inflam de alegria, mas ainda em uma presença na lógica da excepcionalidade); mulheres ainda são minoria como convidadas para palestras, cursos, mediações etc. E há uma certa literatura golpista, respirando por aparelhos, que continua imprimindo suas ideias na Flip.
Hackear o mundo, utopias piratas
Inventar novos mundos, introduzir outras palavras, aglutinar outras gentes. Nosso desejo foi permitir que os grupos interessados em publicizar sua presença, pensamento, arte, discurso ideológico, produção editorial tivessem espaço, tempo e menos regulamentação para estarem juntos. Apostamos em estar junto como proposição política, criar um espaço de sociabilidade para o pensamento se alargar, se horizontalizar, ganhar camadas adicionais ao que é emitido pelos microfones e impressos nos livros.
Piratas, corsários e corsárias inventaram redes de informação que atravessaram séculos, impérios, civilizações, normativas, legislaturas, ilhas conhecidas e ilhas inventadas para novas sociabilidades. A Flipei (Festa Literária Pirata das Editoras Independentes) foi criada, gerada, realizada por uma rede de pessoas. Procurar o início das nossas articulações seria tentar desenovelar um emaranhado de fios (alguns em curto-circuito constante). Um emaranhado que tem proveniências no Centro Acadêmico de Ciências Sociais (Cacs) da PUC de São Paulo, Nem público, nem privado! Autogerido![1]; em diferentes encontros por meio de diferentes movimentos sociais, luta antimanicomial, abolicionismo penal, legalização das drogas, frentes libertárias; em um ônibus-livraria nômade, o Rizoma[2], distribuidor de editoras independentes, que é uma plataforma de trabalho, em sistema cooperativado, que atualmente engaja a maioria (não todas) das pessoas envolvidas na Flipei.
Há um interesse comum na contestação das estruturas e dos meios em que se realizam as coisas públicas entranhada no nosso modo de estar juntos (até mesmo o modo de como realizamos a Flipei é motivo de reflexão, revisão e crítica por nós mesmos). Quando se deixa morrer uma certa modalidade de existência, um certo modo de perceber a realidade, não se extingue a possibilidade de viver, ao contrário, arruína-se um certo mundo apostando na invenção de outros mundos, novas cosmologias possíveis para o presente.
A Flipei não é uma tentativa de arruinar a Flip e suas galeras (programadores, curadores, técnicos etc.). É, sim, uma tentativa de arruinar certo mundo que compõe a Flip que está alicerçado na especulação imobiliária dos imóveis do centro histórico da cidade, casarões de famílias quatrocentonas que vivem do rentismo de eventos como esses, colocando editores no vermelho para ter uma chance de publicizar seus livros. Abandonar certa sacralização da imagem do(a) palestrante, inacessível para quem o escuta, e colocar avizinhamentos entre as possíveis construções de conhecimento coletivo, aproximar as pessoas que frequentam um espaço e oferecer estrutura de contato entre elas. Esboçar uma outra embocadura para dizer a nossa triste-festeira língua coberta de colonizações e formalidades.
Não estamos interessados em arruinar a festa de ninguém, afinal, não será a nossa revolução se não se puder dançar! Interessa-nos essa criação coletiva e horizontal de utopias do presente, bolsões de possibilidade de viver e pensar com a nossa libido destravada de regulamentações, estados, costumes. Pôr abaixo a credulidade do medo e instaurar o terror do desejo! Um terror delirante, amoroso, coletivo e independente.
* Rafael é mestre em Educação (Unifesp, 2017), bacharel em Ciências Sociais (PUC, 2013) e técnico em Artes Cênicas (Indac, 2008). Publicou o livro de poemas Cretino (Ed. Patuá, 2013), colabora com ensaios, artigos e poemas nas revistas Alegrar (SP), Texturas (SC), Córrego (SP) e Barril (BA). É produtor cultural da Cia Perversos Polimorfos e curador do Espaço Multiartístico Capital 35 (SP).
E-mail | [email protected]
#flipei
[1] Ver em https://cacspucsp.wordpress.com/about/
[2] Ver em www.rizomalivros.com.br
A EXPERIÊNCIA DOS CONTRAFACCIONISTAS NA POÉTICA DA CIDADE
Por Jerônimo Bittencourt
Em janeiro de 2018, por meio de um chamado público nas redes sociais, começaram os primeiros contornos que dariam forma a esse grupo de poetas e artistas que hoje se intitula Contrafaccionistas e tem sua sede no espaço multiartístico Capital 35.
O convite era agregar pessoas interessadas em extrapolar a ideia de fruição que a poesia carrega em si e, por meio de um estudo mais profundo, encontrar na poesia apontamentos e procedimentos que desencadeassem intervenções pela cidade. O ponto de partida era inventar uma maneira própria de estudar poesias que questionasse a relação das pessoas com a cidade. Foi assim que demos início a esses encontros, a partir da provocação que vimos na obra de Hilda Hilst, principalmente no primeiro poema do capítulo “Poemas aos homens do nosso tempo”, do livro Jubilo, memória e noviciado da paixão — primeiro de poesia escrito na Casa do Sol —, em que Hilst abre com:
“Senhoras e senhores, olhai-nos.
Repensamos a tarefa de pensar o mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos rostos
Rosto perigoso, rosto-pensamento
Sobre os vossos atos”
Repensar a ideia de pensar o mundo logo se desdobrou na ideia de repensar também os muros e, a partir das leituras e discussões que surgiam, fomos marcando muros inspirados na obra da poeta, escrevendo na pele da cidade, como nos apontava Leminski. A primeira frase disseminada por esses encontros foi “Leia Hilda”, um convite direto para que a cidade adentrasse a obra da poeta que nos inspirava. Não confunda com pichação ou grafite, ou confunda. O fato é que a partir de Hilda fomos nos conectando com a obra de outras mulheres, como a paulista Orides Fontela, sempre à procura de frases precisas e penetrantes, que fossem capazes de tomar de assalto a percepção de quem circula pelas ruas de São Paulo.
Cinco meses se passaram e sentimos que esse movimento parece ser apenas o começo de um jeito próprio de experimentar a poesia. A realidade é que a tarefa de seguir junto é que parece ser o grande trabalho do grupo que tem um núcleo, mas que em sua maioria oscila semana após semana. E nessa tentativa de existirmos juntos, repensando a tarefa de pensar os muros, o que experimentamos é um encontro que precisa ser constantemente reconstruído e reafirmado pelo estudo da palavra e ao qual laboriosamente nos entregamos nos últimos meses. Nesse ato poético nós lemos, escrevemos, discutimos, criamos e nos lançamos à cidade. Juntos.
Por enquanto sentimos os Contrafaccionistas como um campo poético aberto e poroso, onde seguimos pesquisando possibilidades de como o contorno sutil da poesia pode nos ajudar a entender o que é estar em companhia, tomar posse das ruas ou simplesmente como continuar. Por ora apenas deparamos com a cumplicidade inabalável da estrada… e também deixamos umas palavras por aí.
SERVIÇO
Contrafaccionistas – Espaço Multiartístico Capital 35
Todas as quintas às 20h
Rua Capital Federal, 35 – Sumaré (10 minutos do metrô Sumaré)
E-mail | [email protected]
#contrafaccionistas
Você sabia?
- Um sarau é um evento cultural em que ocorrem diversas manifestações de arte diferentes, como dança, música e leituras de textos e poesias. Cada sarau se organiza de uma maneira, de acordo com os artistas envolvidos. Ainda que não queira participar oferecendo um pouco da sua arte, você pode compartilhar a produção artística do seu bairro, da sua cidade, de seu país.
- Slam são concursos de poesia declamada que trazem questões da atualidade para debate. Os primeiros slams aparecem nos Estados Unidos, em conjunto com o movimento hip hop na década de 1980. Se você tem vontade de mostrar sua poesia ao vivo, mas tem vergonha, não se preocupe: esse é um espaço para qualquer pessoa, independentemente de sua profissão, compartilhar seus escritos ou suas palavras improvisadas. Me lembra um pouco a criação de repentes, quando as pessoas declamam versos improvisados.
- Toda semana acontecem diversos saraus e slams na cidade. Aqui vai uma lista de alguns deles para você se programar. Basta procurar nos sites indicados para se informar sobre as datas e locais. Saiba que a maioria é itinerante e de periodicidade variável.
– Slam das Minas | facebook.com/SlamdasMinasSP
– Sarau do Binho | facebook.com/SarauDoBinho
– Slam da Resistência | facebook.com/slamresistencia
– Slam da Guilhermina | facebook.com/slamdaguilhermina
– Slam da Ponta | facebook.com/SlamdaPonta
– Sarau Elo da Corrente | elo-da-corrente.blogspot.com
– Sarau da Cooperifa | facebook.com/Cooperifaoficial
- Tem vontade de escrever, mas sente que lhe faltam ferramentas? Dica: a Casa das Rosas tem diversos cursos e oficinas para melhorar a sua escrita. Outra dica: leia muito, escute poesias declamadas. Quanto mais lemos e ouvimos, maior o repertório que podemos desenvolver.
Indicações de leitura
- Comecemos por ela, Hilda Hilst, a homenageada da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Do Desejo é uma reunião de sete livros organizados pela própria autora, de maneira não cronológica. A poesia de Hilda é movimento puro. Vale muito a leitura.
- Ainda sobre Hilda, Cristiano Diniz organizou uma série de entrevistas com a autora em Fico besta quando me entendem. Confesso que me encantei com o modo pelo qual essa mulher enxergava a vida, ainda que sua poesia fale por si. De neutrinos a relatos sobre o ato de escrever, o livro traz outra abordagem da autora que escrevia, além de poesias, crônicas, ficção e teatro.
- Meus poemas teus, da poeta Rita Maria Gaona, passou a minha prateleira de poesia este ano. A autora ribeirão-pretana traz em sua coletânea poesias delicadas com um toque de esperança a cada página.
- Cristiane Sobral revela uma poesia crítica e aguçada em Terra negra. Carioca, a poeta traz palavras flamejantes do dia a dia da mulher negra, questões e especificidades que ainda precisam ser observadas. Cristiane também é contista e cronista. Vale a pena conhecer.
- A paulistana Cássia Janeiro traz em sua coletânea A pérola e a ostra, uma agulha fina como espada ao olhar para a cidade e as mulheres que a habitam. Não faltam entrelaçamentos com a natureza de si e do espaço, uma lindeza só.
- Vale a pena ainda conhecer mais de nossa poesia atual! É possível encontrar produções de poetas contemporâneos brasileiros talentosíssimos como Ana Elisa Ribeiro, Alexandre Guarnieri, Alice Sant’anna, Bianca Gonçalves, Bruna Beber, Elizandra Souza, Fabrício Corsaletti, Luiza Romão, Marília Garcia, Mel Duarte, Michel Yakini, Regina Azevedo, Roberta Estrela D’Alva (slammer que compete em campeonatos de poesia oral mundo afora), entre tantos outros e outras. Muitos deles encontramos pelos saraus e slams de São Paulo!
Um relatinho dentro das indicações.
Quando eu era criança, pelos 8 anos, pedi a Rita, bibliotecária da escola, que me emprestasse um livro de poesia. Rita subiu as escadas e pegou um livrinho na prateleira mais alta, de capa marrom e com cara de velho. Intrigada, levei o livro pra casa e em leituras silenciosas percebi que gostava da sonoridade que tinha a poesia. Eu pensava não ter entendido nada, ao mesmo tempo que estava deslumbrada com a existência daquele livro. Era lindo e eu gravara só uma frase: “é tudo imaginação”. Um dia, angustiada, confessei a Rita minha aparente falta de repertório e ela me respondeu que eu não precisava realmente entender, mas sentir e deixar passar por mim o que eu tinha lido. Ela passou a me indicar outros livros de poesia para que eu pudesse degustar melhor as palavras. Eu sentia que precisava entender aquilo tudo, o que significava cada um daqueles pedacinhos, junções de letras, espaços e as histórias, vivia os intervalos de aulas na biblioteca. Eu queria muito entender o que se passava com aquelas pessoas que escreviam tantas coisas cadenciadas. Aos 12, num acesso de raiva adolescente, desatei a escrever umas 300 linhas de uma vez e chorar por cima do lápis no papel: eu escrevia com a fúria de quem não é compreendido. Talvez só aí eu tenha deixado me atravessar pelas palavras; desde então, não conheço outro método de escrever senão esse. Com paixão, tensão, tesão, com intensidade e raiva, sem pensar exatamente nas palavras que vão aparecendo — o lapidar é secundário (e preciso!).
Anos depois, reencontrei a frase “murmuro para mim mesma: é tudo imaginação”, na coletânea Melhores poemas – Cecília Meireles, cuja seleção foi feita por André Seffrin. Curiosamente, o poema se chama “Memória”. Indico Cecília porque Cecília me ensinou a escrever para respirar melhor.
Acontece
Selecionei uma estreia e uma reestreia de espetáculos superpoéticos para você apreciar! Também tem dois saraus na Casa das Rosas, tudo em setembro. Dá só uma olhada:
E² Cia de Teatro e Dança | BLUE
Sob a direção de Eliana de Santana, BLUE é inspirado na obra plástica do artista britânico Chris Ofili. Essa peça faz uma reflexão poética sobre a cor azul, filtrada pela música blues, herança dos escravos negros no Delta do Mississipi. Em algum lugar entre os acordes ancestrais da música blues e a tinta azul de Ofili nasce esta dança, cujas reflexões estéticas e sociais dialogam com o azul, transformando-o em cor-referência e em apoio poético para os dizeres coreográficos do corpo e da cena. O trabalho, muito delicado, costura-se com a obra de Ofili, trazendo crítica social e humor, ironia e exuberância estética, referências ao mundo pop e à ancestralidade africana.
Galeria Olido
Av. São João, 473. Próximo ao metrô República
Sábado e domingo, 7 e 8/09
20h e 19h – Grátis
Cerco Coreográfico | AMA
O sensível espetáculo AMA é assinado por Andréia Yonashiro, Bárbara Malavoglia e Marion Hesser. De criação coletiva do cerco coreográfico, foi inspirado nas mergulhadoras japonesas que coletam pérolas há mais de um século. O processo de composição das artistas, que usam o sal como elemento poético, envolveu um curso de mergulho de apneia e pesquisas numa salina, além de um ateliê para escolher cinco bailarinas que não pertencem ao cerco. O público poderá ter experiências sonoras com fones de ouvido.
Sesc Pinheiros (praça de convivência)
Paes Leme, 195. Próximo ao metrô Faria Lima
Terças e quartas-feiras, 11/09–26/09
20h30 – Grátis
Marco Pezão | Sarau “A Plenos Pulmões”
Sarau dedicado aos amantes da poesia, idealizado pelo poeta Pezão, agitador cultural e um dos fundadores do Sarau da Cooperifa. O evento abre espaço para novos poetas apresentarem sua produção, com o objetivo de incentivar a literatura escrita e falada. O microfone fica aberto para todos. As inscrições começam uma hora antes do sarau.
Casa das Rosas
Av. Paulista, 37. Entre as estações Brigadeiro e Paraíso do metrô
Sábado, 22/09
19h às 21h – Grátis
Coletivo Poetas Ambulantes | Sarau Aniversário dos Poetas Ambulantes
Para comemorar seus 6 anos de existência, que se completam em setembro, o Coletivo fará diversas intervenções poéticas e interações com o público no jardim da Casa das Rosas.
Casa das Rosas
Av. Paulista, 37. Entre as estações Brigadeiro e Paraíso do metrô
Sábado, 29/09
19h às 21h – Grátis
Cia. de Teatro Lusco-Fusco | Cantos de Coxia e Ribalta
Sob os sussurros da coxia e as luzes da ribalta, um grupo de atores se reúne para contar uma história. Entre o corre-vida e as chegadas e partidas dos trilhos de uma estação de trem, o público é apresentado a uma trupe de teatro em crise financeira, que corre o risco de ter seu teatro tomado por conta da especulação imobiliária. Um poeta então é encarregado de criar uma grande obra teatral a fim de trazer de volta aos artistas os tempos áureos: é a última chance de teatro sobreviver. Nesse cenário, personagens tipificados, inspirados pelos tipos commedia dell’arte, passam a viver seus próprios conflitos, que se misturam com a própria história da peça que estão montando. Enquanto tentam contar a história, a realidade mescla-se com a ficção até que se tornem uma coisa só. A abordagem poética da paixão, da desilusão, da entrega, da inveja e da competição, da morte e, sobretudo, da sensação de estar sempre tentando permanecer “de pé” e superar os obstáculos impostos pelo destino — sensação tão comum ao teatro e também à vida cotidiana — são os ingredientes que movem o espetáculo.
Funarte – Sala Carlos Miranda
Al. Nothmann, 1058. Próximo ao metrô Santa Cecília
Outubro. Sábados, às 20h e domingos, às 19h.
http://teatroluscofusco.wixsite.com/teatroluscofusco
Arte em vo-C
Gosta de escrever poesia? E de dançar, atuar, pintar? A partir das próximas edições, esta seção será exclusiva para textos dos nossos leitores! Envie o seu material com o seu nome (ou pseudônimo, fique à vontade!) para que a gente publique e compartilhe na revista e em nossas mídias sociais. Todos têm arte fruindo nas veias, que tal mostrá-la para o mundo? Estamos a um clique de distância 🙂
[email protected]
O OVO DOS ARTISTAS
Priscila Pires (@priscilahbc)
Andei desandado
o compasso do passo
perdi o ritmo
dos olhos
Guio-me-te-guiar-se
pela textura do chão
desalinhado embolhado
de verniz
desembolando gente
sem verniz
(ou sem vernissage?)
estralando
o corpo mais do que
chão de madeira
embolhado
de verniz
passo sem compasso no meu passo
entre a gente
sem verniz
escrevente
em f(luxo)
desalinhada
em f(luxo)
não acabei
o tempo não acabou
o tempo não chocou
o ovo
da sociedade desalinhada
em fluxo
desfluxal sal
salga as marmitas de hoje
cons(erva)(sal)
o prato dos que vêm amanhã
discurso
em f(luxo)
sem sal
é só sociedade desalinhada
o ovo não chocou.
Terça-feira
Tiago Silva Reis (@tiago_ tiago_poesiafunkstyle)
Tons de medo, vidro meu escudo
Fito seus lábios todo o tempo
Tempo, vento, tanto tempo, tento, invento, penso…
Quando vi já era outubro
Desdenho!
Já planei por tantas nuvens e voar pra mim é refletir meu riso na sua íris
Reinvento
Junto os cacos, volto pra arena e com os pés descalços aterro, sem crise
Retorno, entorno, reforço o contorno da sua tatuagem
Disfarço, desfaço, descaso do meu oásis
Me insisto, me degolo, me enrolo, me imploro
Pode crê, sou camicase!
Eu me
Eu te
Eu não
Eu só
Eu tão
Eu faço
Eu deixo
Eu alto de baixa estatura
Eu sangro eu subo a montanha
Eu largo a corda eu desço
Eu cresço eu apareço
Eu mereço mais que seu apreço
Preço?
Quanto mais te conheço
De graça eu te gosto
Quanto mais eu padeço
De graça eu te roubo
Eu bolo não enrolo
Eu foco não te olho
Eu bebo orgulho
Escrevo eu surto, doce, letal efeito
Nóis quis assim, melhor assim
Desse jeito sem jeito
Sem nome, sem tempo
Sem chão, sem ar sem vento, eu plano
Meu plano?
Não tem
Mas aí quando chegar a terça
Me diga que vem?
Jerônimo Bittencourt (@jeronimobitt)
Lia poesia
Enquanto a guerra eclodia
Contemplava eclipses fora de época
À espera do pão
Economizando emoções
Lia poesia
Quase alheia ao aniquilamento eminente de sua geração
Com o sorriso em banho-maria
fumando um cigarro no
Meio-fio
Meio dormindo
Meio domingo
Lia poesia
Principalmente para adiar a hora de preparar o almoço
E ter que cortar a cebola
E enfim deixar rolar
A lágrima tardia
Rafael Limongelli (@rafaellimongelli)
vi
-me
te
ven
do
pen
sar.
I D E I A F I X A
Tra
fega
pes
ada
no
C O N T E I N E R
Bar
ra
um
ven
to
trav
esso
que
leve
ressoa
o
mar
d e s i n t r e i c h e r a d o
Onde
Mainá Santana (@mainassantos)
Assumo.
Não estou em lugar algum
há rachaduras de fronte apática,
sou feita do castanho-avermelhado
aveludado avô morto
em algum espaço
Não há lugar
Para a pressão desabar até a cabeça
salga o betume no olhar por vir
sem lugar
para cronicidade, atemporalidade
vibra enxaqueca corpo todo
Não há específico algum.
Não há horas
não, há horas
não há tempo
não. Há um tempo
não há dinheiro que comporte
não há palavra sintética de ideia
rastejar de pensamento
tempestade de mente
interesse de vagar
sinto efêmera, se é possível estar,
sem começo nem fim
porque não há