Por Marcella Erédia e Natasha Lima

Nos dias de hoje, é difícil imaginar nossas vidas sem a presença do cinema. Fomos acostumados a consumir os mais variados filmes, em salas de exibição ou no conforto de nossas casas, contribuindo com uma indústria mundial que movimenta bilhões de dólares por ano. Mas nem sempre foi assim. O cinema surgiu no final do século XIX e percorreu um longo caminho até se tornar a potência que conhecemos.

Assim como na história de outras grandes invenções, como a lâmpada elétrica e o primeiro automóvel, o cinema é fruto de um período de muito otimismo e entusiasmo com a ciência e suas descobertas. Em 1889, William Dickson, assistente de Thomas Edison, criou o cinetoscópio e tornou possível capturar imagens em sequência e reproduzi-las em uma câmara escura.

No entanto, o cinetoscópio não era capaz de projetar imagens em outras superfícies, por isso, sua exibição era extremamente limitada. Pensando em novas formas de usar as fotografias em movimento, Léon Bouly criou o cinematógrafo, que, mais tarde, foi aprimorado e patenteado pelos irmãos Lumière. Em 1895, parisienses assistiram ao primeiro curta-metragem criado pelos irmãos.

O resto dessa história você confere nos dois documentários indicados nesta edição do Cine Sofá. Em Lumière! A Aventura Começa, conheça detalhes dos primeiros filmes produzidos pelos irmãos Lumière e o contexto no qual foram criados. Em A História Não Contada da Primeira Cineasta do Mundo, descubra a mulher que contribuiu para que o cinema pudesse ir além e contar inúmeras histórias.

Lumière! A Aventura Começa (2016)
Direção: Thierry Frémaux
Produção: Bertrand Tavernier
Disponível no Telecine

Considerados os pais do cinema, os irmãos Auguste e Louis Lumière iniciaram sua jornada em 1895. Após o lançamento de seu primeiro curta, a invenção do cinematógrafo repercutiu ao redor do mundo e fez com que eles logo ganhassem notoriedade. Surgia, então, a arte de projetar a vida nas grandes telas.

Segundo registros, Louis Lumière e seus operadores fizeram 1.422 filmes. Os curtas tinham cerca de 50 segundos e, em sua maioria, retratavam ações do cotidiano, como em A Chegada do Trem na Estação ou O Almoço do Bebê. Suas obras descrevem as profissões, os lugares e costumes da época, em especial na França do século XIX.

Além do avanço técnico trazido pelo cinematógrafo, sua forma de trabalho e de comercialização dos curtas também foi precursora. Dessa época datam os primeiros registros de filmagem panorâmica — um travelling lateral feito por Alexandre Promio, um dos operadores de Louis — e do plano sequência, usado até os dias de hoje. Também surgiu o que podemos chamar de primeiro filme publicitário, A Saída da Fábrica.

No documentário Lumière! A Aventura Começa, Thierry Frémaux apresenta 108 cópias restauradas de filmes rodados entre 1895 e 1905. O diretor analisa as produções, das mais famosas às desconhecidas pelo público, e reflete sobre a importância da invenção até os dias atuais.

Auguste e Louis Lumière — bem como seus operadores — foram, sem dúvida, parte fundamental no surgimento da sétima arte. Seu pioneirismo e ousadia garantiram a popularização da vida contada através das câmeras e abriu caminho para outros cineastas fazerem história, criando, assim, um mundo de possibilidades, presente no cinema como o conhecemos.

Alice Guy-Blaché: A História Não Contada da Primeira Cineasta do Mundo (2018)
Direção: Pamela B. Green
Produção: Jodie Foster
Disponível no Telecine

O documentário conta a história de Alice Guy-Blaché, uma jovem francesa que produziu centenas de filmes entre 1896 e 1920. Foi a primeira mulher a ocupar o cargo de diretora de cinema e, também, pioneira em uma série de técnicas audiovisuais popularizadas no início do século XX.

Alice tem uma história surpreendente. Com apenas 18 anos e formação para atuar como secretária, conseguiu um emprego na companhia Gaumont. Depois de participar de algumas das exibições dos irmãos Lumière, em Paris, foi inspirada a usar as câmeras produzidas pela Gaumont para criar seus próprios filmes.

Antes de Alice, os filmes eram usados para registrar cenas do cotidiano, como os curtas-metragens produzidos pelos irmãos Lumière, e locais ainda pouco conhecidos pelos europeus. Ela foi a primeira diretora a usar o cinema para contar histórias, criando pequenos filmes baseados em fábulas e contos populares.

Sua criatividade moldou o futuro do cinema. Para obter o resultado desejado, Alice criou efeitos especiais e foi a primeira a usar técnicas como close-ups e câmeras em movimento. Também esteve envolvida na produção dos primeiros filmes com cores e no uso de sons sincronizados com os movimentos em tela.

Foram tantos feitos que é difícil entender por que nunca ouvimos falar no seu nome. Mesmo pessoas que trabalham com o cinema desconhecem o legado de Madame Blaché. Por isso, esta obra faz parte da redescoberta dessa importante personalidade e explica por que sua história foi esquecida com o passar dos anos.

O documentário e alguns dos filmes produzidos por Alice Guy-Blaché estão disponíveis no Festival dos 125 anos do Cinema, promovido pelo Telecine. Não perca essa oportunidade! A celebração acontece por tempo limitado.

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