Por Gustavo de Oliveira

A música nasce por meio de um conjunto de experiências tanto de quem produz quanto de quem consome. Os encontros da vida social dão luz às obras e inspiram a criação de diferentes ideias. Porém, mais do que experiências pessoais, relacionamentos e sentimentos, os contextos políticos e sociais influenciam os artistas de forma consciente e inconsciente. Talvez um dos elementos subjetivos mais importantes desse processo sejam os espaços geográficos e como a sociedade se dispõe e se comporta dentro deles. Para estudar esse fenômeno, nasce o que chamamos de “Geografia da Música”.

Este subcampo da Geografia Humana tem o objetivo de estudar a espacialidade da atividade musical e como nasce o imaginário do espaço urbano por meio da música. Além, é claro, das representações do espaço que existem em canções e todas as atividades relacionadas. A partir de 1920, com a introdução da radiodifusão, o interesse pelos desdobramentos da produção musical aumentou exponencialmente. O estudo da música quis ir além do formato e aprendizado dos instrumentos, buscando, assim, a compreensão da cultura, da identidade e do discurso dos artistas.

As principais características que sustentam esse campo de estudo são a memória e a percepção. A música é poderosa por conseguir entrar em nossos ouvidos e formar nossos sentidos, dando significado não só ao que vivemos, mas também ao lugar que ocupamos. Por exemplo, diferentes movimentos musicais só nasceram em locais específicos porque estes ofereceram as condições necessárias para a fertilidade do gênero. O rap nasceu graças aos desdobramentos de um apagão em Nova York. O blues se desenvolveu a partir do encontro de tradições africanas dos trabalhadores escravizados no sul dos Estados Unidos. O samba se desenvolve nos bairros ocupados por negros no Rio de Janeiro, após a abolição da escravidão.

O elemento geográfico é sempre muito presente no contexto musical, seja em esferas maiores, seja num sentido mais minimalista. É possível criar vínculos fortes por meio das sonoridades. Não é à toa que, em sala de aula, vários professores utilizam músicas para facilitar e potencializar o aprendizado. Ou seja, as canções criam uma relação própria com os ouvintes, que fazem estes construírem lembranças mais vívidas por meio dos sons. Por exemplo, escutar uma música de Roberto Carlos pode remeter aos especiais de final de ano e às festas de Natal e Ano-Novo em família.

A Geografia da Música demonstra toda a potência que existe atrás dos ritmos e composições. E vai além, exibindo como toda a construção de conhecimento humano é muito mais complexa do que imaginamos.


Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.

Share: