Por Anderson Borges Costa
O povo brasileiro é mundialmente reconhecido por ser alegre e bem-humorado. O interessante dessa característica é que o país do bom humor é justamente um dos mais desiguais do mundo, com altíssimos índices de violência urbana, de miséria e onde pessoas de pele negra têm muito menos oportunidades e reconhecimento do que os brancos. Um dos mais talentosos humoristas brasileiros foi o negro Antônio Carlos Bernardes Gomes, popularmente conhecido como Mussum, cuja difícil história de vida é tema da recente cinebiografia Mussum: O Filmis.
O humorista Mussum foi um dos quatro membros do quarteto Os Trapalhões, que alegrou, durante 18 anos, noites e manhãs dominicais de diversas gerações de crianças. Além de Mussum, faziam parte do quarteto Renato Aragão, Dedé Santana e Zacarias. Dos quatro, o único negro era Mussum, cuja história de vida mostra quão improvável o seu sucesso foi.
No filme, ou no “filmis” — uma referência ao hilário dialeto que Mussum inventou —, vemos a pobreza que Mussum enfrentou quando criança: morador de uma casa nos morros cariocas, com poucos recursos e sem pai. Sua mãe era uma empregada doméstica analfabeta, que trabalhava seguidas horas para conseguir chegar ao fim do mês sem passar fome e, se possível, com poucas dívidas. O talento artístico e a determinação do garoto Antônio Carlos são destacados no filme, retratando que antes de ser humorista ele já era músico, tendo fundado o famoso grupo Originais do Samba. O sucesso de Mussum na televisão aumentou ainda mais seu êxito na música. No entanto, a glória de um improvável artista pobre e negro, em duas frentes, é a causa de um dos grandes dramas na vida de Mussum.
Assim como o brasileiro, que é naturalmente bem-humorado, o filme tem partes muito engraçadas. No entanto, as cenas mais marcantes neste “filmis” são aquelas que tiram emocionadas lágrimas do espectador. Segure-se no sofá, pois cinema também é movimento.
“Mussum: O Filmis” (Brasil, 2023)
Produtor: Sílvio Guindane
Elenco: Aírton Graça, Felipe Rocha, Gero Camilo e Gustavo Nader
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Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.