Texto | DANIEL C. TSUI
Universidade de Princeton
Princeton | DC | EUA

Minha vida foi feita de vários caminhos. Minha infância se deu em uma remota vila de Henan, China, onde minha atividade principal era ajudar meu pai na colheita. Meus pais, que nunca tiveram a oportunidade de aprender a ler e a escrever, reconheceram que uma educação adequada não seria possível naqueles tempos na vila e agarraram a primeira e talvez a única oportunidade de educação quando me deixaram, aos 11 anos de idade, com um parente na distante Hong Kong.

A escola que frequentei em Hong Kong, escola Pui Ching, dispunha de vários professores formidáveis, especialmente em ciências naturais, e inspiradores. Normalmente eles seriam professores universitários na China, mas o transtorno causado pela guerra forçou-os a deixar seus cargos, tendo somente a oportunidade de se tornarem professores do ensino médio. De uma forma inconsciente os professores nos instigavam, mesmo morando em uma cidade extremamente comercial, a ver além das possibilidades financeiras e olhar a exploração de novas fronteiras do conhecimento humano como intelectualmente desafiador e gratificante.

Minha preferência era ser médico e fui admitido na escola de medicina da Universidade Nacional de Taiwan, entretanto minha necessidade de ter uma bolsa integral de estudos levou-me à faculdade religiosa, Augustana College, nos Estados Unidos, onde eu me graduei em matemática.

Inspirado por C. N. Yang e T. D. Lee, que ganharam o prêmio Nobel de física em 1957 e sendo ambos da Universidade de Chicago, escolhi esta mesma universidade para fazer pós-graduação em física experimental. Tive a grande satisfação de trabalhar com o professor Royal Stark, um enérgico e jovem experimental da área de estado sólido. Com ele eu tive toda a oportunidade de aprender desde o mais básico até o mais intrincado: desde desenho projetista, solda, maquinaria, até a construção dos instrumentos do laboratório.

Deixei Chicago em 1968 e fui trabalhar nos laboratórios Bell em Nova Jersey com pesquisa na área de física do estado sólido. Foi lá que escolhi outro caminho, deixando para trás o terreno mais familiar da física dos metais e entrei em um novo e estranho terreno que chamamos atualmente de física de elétrons de baixa dimensionalidade em semicondutores. Eu descrevi em algum lugar esta mudança de campo de pesquisa como “vagando em direção a uma nova fronteira”. Para mim, pelo menos, as “descobertas” vieram de fazer (e refazer) os vários experimentos, falando com outros cientistas dos laboratórios Bell, pensando sobre teorias relacionadas a tais experimentos, aproveitando-me dos vários avanços técnicos e colaborando com outros cientistas. Foi somente com o tempo que os experimentos confirmaram alguns de meus palpites e acrescentaram mais informações, que o que precisa ser descoberto tornava-se mais claro.

Em 1998, eu e Horst Stomer recebemos o prêmio Nobel de física pela descoberta de 1982 de que “os elétrons atuando juntos em campos magnéticos fortes podem formar novos tipos de “partículas” cujas cargas são frações das cargas dos elétrons”, também descrito pelo comitê do prêmio Nobel como “ sua descoberta de uma nova forma de fluido quântico com excitações fracionalmente carregadas”. Em 1982, nós obtivemos resultados inesperados e excitantes juntamente com um teórico, Robert Laughlin, que só um ano depois formulou as equações que permitiram seu entendimento teórico. Ele dividiu o prêmio Nobel conosco.

Portanto, eu não tenho nenhuma história fascinante para contar sobre experimentos com ciência durante a minha infância. Contudo, a curiosidade foi a curva em meu caminho que me levou às bordas do conhecimento científico onde tive a sorte de determinar, através de experimentos, fenômenos que continuam a gerar novas descobertas e entendimentos. Sou professor de Universidade de Princeton há mais de duas décadas e supervisiono estudantes em sua pesquisa. Está claro para mim que existem muitas descobertas intrigantes e avanços técnicos produtivos a serem encontrados através da ciência!


Tradução | DIOGO DE OLIVEIRA SOARES PINTO
Título original | A curiosidade foi a curva em meu caminho
Diagramação | RONALDO CAMPOS

Foto de Manson Yim/Unsplash
Foto de Pop & Zebra/Unsplash

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