Por Gustavo de Oliveira

A nostalgia está presente em quase tudo que consumimos em formato de arte. Ainda mais quando criamos um vínculo que atravessa nosso crescimento pessoal e cronológico. Esse sentimento acaba sendo um grande combustível de valorização de tudo que descobrimos e guardamos com afeto durante a nossa vida. E isso é muito especial, porque é o agir de nossas lembranças com base em sensações criadas pela arte. Porém, tão especial quanto isso é perceber que um artista que admiramos também passou por um processo de amadurecimento junto conosco, colocando-nos como contemporâneos, mesmo que não nos conheçamos.

This Is Why, sexto álbum de estúdio da banda norte-americana Paramore, se coloca nesse lugar de observação do passado, mas com as perspectivas do presente e de quem cresceu no caos do século XXI. Lidando com o pessimismo da nossa época, intensificado por uma pandemia muito atuante na produção do disco, a banda fortaleceu seu discurso. Afinal de contas, o que antes embalava os fones de ouvidos de adolescentes na primeira década dos anos 2000 precisa satisfazer os anseios de jovens adultos (como eu, que aqui escrevo). Por isso, o Paramore experimenta não só nas composições, mas traz uma interpretação sóbria do resgate da música pop às tendências dos anos 1980 e 1990.

Tematicamente, o álbum lida com sarcasmo e contradição constantes. Ele começa com a faixa-título, que aborda uma necessidade por isolamento, apesar de o mundo convergir para um contexto diferente. Afinal, o pós-pandemia reserva experiências tão boas assim? Essa revolta é apresentada não com verborragia, mas com a elegância e a elaboração que vêm junto com a idade. Desse caos pessoal e social é quase impossível escapar, por isso se recolher e estar em constante reflexão é o que ajuda nesses momentos.

A banda utiliza um discurso poderoso, que decompõe os conceitos do “ser” e “não ser”. O que somos está diretamente ligado ao que ocorre à nossa volta? É possível se desligar do mundo em prol de nossos objetivos pessoais? Essas são algumas perguntas com as quais constantemente esbarramos pela vida e também em This Is Why. Os questionamentos que assustam e se contradizem são acompanhados de acordes muito bem colocados, mas que se sobrepõem. Como uma corrente de pensamentos que nos pega sem que consigamos nos desvencilhar.

Mesmo com todas as reflexões a respeito dos acontecimentos da vida, ainda assim deparamos com ciclos que não querem nos abandonar, gerando a frustração que é resultado das expectativas que criamos em torno do amadurecimento. O Paramore pincela muito sobre isso em “Thick Skull”, que serve não só para encerrar o álbum, mas como um impulso final. Uma revisão de acontecimentos recentes, que parecem se repetir e de quantas lições podemos tirar disso.

This Is Why é uma grande quebra de expectativa, assim como a chegada da vida adulta. Porém, ele demonstra que a energia juvenil sempre está presente dentro de nós, mesmo que se manifeste de um jeito diferente do que imaginamos. E obviamente, mesmo quando não cumprimos com aquilo que esperam de nós.

Paramore: This is Why [Official video]


Gustavo de Oliveira
Graduando em Jornalismo pelo Centro Universitário Carioca e técnico em administração. Redator desde 2018 com experiência em música e jogos.

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