Por Anderson Borges Costa
Ele foi um dos principais jogadores do Corinthians. No Brasil, também teve passagens marcantes pelo São Paulo e pelo Flamengo. Na Europa, fez sucesso na Itália e em Portugal. Pela Seleção Brasileira, disputou a Copa de 1986, sob o comando do icônico técnico Telê Santana. Mas suas principais jogadas, seus lances mais emocionantes, ele realizou fora de campo. Em uma vida em que precisou superar desafios que o levaram, mais de uma vez, quase à morte. É entre golaços, impedimentos, cartões vermelhos e algumas taças (de vinho e de troféus) levantadas que se lê a impactante biografia Casagrande e seus demônios.
Vale a pena saborear a trajetória de Casagrande como centroavante. Desde a estreia marcante no time principal do Timão, no qual Casão marcou quatro gols, passando por títulos do Paulista, pela ida ao Tricolor com ótimo desempenho, que o levou à Seleção, passando pelo Porto, pelo Torino, pelo Ascoli e pelo Mengão. A parceria com Sócrates, com tabelinhas insinuantes, os gols e as assistências — tudo isso coloca Walter Casagrande Júnior no panteão dos grandes jogadores que o futebol brasileiro produziu.
No entanto, o que torna Casagrande grande, uma grande casa de festas e horrores, é a trajetória paralela que ele construiu enquanto marcava gols. Ainda durante a ditadura militar, Casão fez parte, com Sócrates e Wladimir, da Democracia Corintiana, que desafiou o regime autoritário. Pego com drogas, foi preso. Viciado em tabaco, álcool, maconha, cocaína, ácido, Casagrande — um pai de família sensível, apaixonado pelos filhos, pela música, pelo cinema, pela vida — flertou com a morte em vários escanteios. Fez gols contra, errou passes, foi expulso. Mas nunca deixou de se posicionar. Gritou para exigir que a justiça fosse ouvida. Desculpou-se quando escolheu caminhos tortuosos. Recebeu tratamento médico e hoje se esforça para manter-se longe dos vícios que quase o derrubaram para sempre.
Em coautoria com o jornalista Gilvan Ribeiro, Casagrande e seus demônios é um livro que descreve uma vida sobrenatural, ao mesmo tempo mortal e divina, na qual a bola é apenas uma das tantas facetas de um complexo jogo que podemos chamar de vida. Boas leituras!
Casagrande e seus demônios, Walter Casagrande Júnior e Gilvan Ribeiro
Editora Globo Livros
Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.