Por Anderson Borges Costa

O Rio de Janeiro continua perigoso, mas o Rio de Janeiro a dezembro continua lindo. O Rio são mortes, são morros e são praias. O Rio não é só Copacabana, é também Ipanema, onde tem uma garota muito linda, cheia de graça, é ela a menina que vem e que passa, num doce balanço a caminho do mar. O Rio é uma canção que o mundo cantou em uma beleza que não é só minha, e o mundo se enche de graça em uma bossa nova que virou um livro, que narra a vida de quem inventou uma nova bossa para o mundo ouvir. Chega de saudade, escrito por Ruy Castro, é a biografia da bossa nova.

Acostumado a escrever biografias de grandes nomes da nossa cultura, como o dramaturgo Nelson Rodrigues, a cantora Carmem Miranda ou o craque Mané Garrincha, desta vez Ruy Castro descreve o surgimento da bossa nova, uma expressão musical de jovens no Rio de Janeiro nos anos 1950. Fazia muito pouco tempo que o Brasil e o mundo tinham saído do ar sufocado que representou a Segunda Guerra Mundial, que cobriu o mundo de mortes e de ditaduras. A primeira década da segunda metade do século XX no Brasil foi de paz, prosperidade e liberdade. Foram anos em que os jovens não precisavam mais do que a voz, um banquinho e um violão para criar uma revolução.

A bossa nova foi uma surpreendente inovação na forma de tocar e de cantar. O sol da praia e a água do mar bastavam para que temas como amor, amizade e atitude desfilassem pelas letras da suave batida que a nova bossa oferecia ao mundo. Do Rio para a janela de casas no planeta inteiro. O mundo cabia em um cantinho de areia na praia de Ipanema.

Em Chega de saudade, Ruy Castro constrói um desfile dos principais personagens que participaram da vida da bossa nova em bares, em ruas e em casas do Rio de Janeiro. Castro entrevistou dezenas de pessoas para reconstituir a história dos encontros e desencontros entre Vinicius de Moraes, João Gilberto, Tom Jobim, Nara Leão, Newton Mendonça, Carlinhos Lyra, Johnny Alf, Sylvinha Telles, Maysa, Ronaldo Bôscoli e Elis Regina. A bossa nova são muitas vidas biografadas ao som de uma canção que cantou uma festa, cuja bossa nunca envelheceu. Chega de saudade é um livro que lemos com os ouvidos. Saudade não tem fim, felicidade sim. Boas leituras!

Chega de saudade, Ruy Castro
Editora Companhia das Letras

 

 

 


Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.

Foto do livro: Reprodução
Imagem de capa: MIL FOLHAS
Share: