Por Anderson Borges Costa

Na final da última Copa do Mundo de futebol, entre a Argentina de Messi e a França de Mbappé, para quem você torceu? O Brasil, que já foi o país onde se jogava o melhor futebol no mundo, hoje é um observador distante dos grandes jogadores e dos jogos espetaculares que o esporte mais popular do planeta oferece. O futebol no Brasil é um passado glorioso, um passado em que o país já foi grande. Hoje, vivemos de memórias em busca da reconstrução de um futuro incerto. O escritor argentino Juan José Saer cria um movimento parecido com o que vive hoje o futebol no Brasil, ao transportar o protagonista Willi Gutiérrez de volta a seu país e à pequena cidade de Rincón, em Santa Fé, após 30 anos de ausência do país e de sua origem. Assim como o futebol no Brasil, Willi Gutiérrez quer se reconectar com o que já foi. Esta é a ideia geral do belo romance O grande.

Willi decide, repentinamente, sem avisar ninguém, deixar a Argentina e ir para a França. Lá, passa 30 anos, sem nunca retornar, sem nunca dar notícias. Sem deixar rastros na Argentina. Em silêncio, ele partiu. Em silêncio, três décadas depois, Willi Gutiérrez volta à Argentina, volta à pequena Rincón e volta para os amigos. Busca-os um a um e os convida para um churrasco, a forma mais argentina de confraternização. A narrativa se dá em sete dias, de uma terça-feira até a segunda-feira seguinte. O churrasco será no domingo. E o dia seguinte ao churrasco, a segunda-feira, é o início da nova semana, mas é o último dia do livro.

O grande é o último livro que Juan José Saer escreveu. São 500 páginas de uma narrativa sobre ausência e sobre a busca pelo preenchimento da ausência. Saer estava doente quando escrevia O grande e tinha ciência de que era seu último suspiro como escritor. O último dia do livro, a segunda-feira, termina de forma abrupta, talvez incompleta, talvez querendo que houvesse mais horas em uma segunda-feira após o churrasco do reencontro, o churrasco do retorno, o churrasco degustado aos 45 minutos do segundo tempo na segunda-feira sem uma segunda vez. O grande é um grande livro. Boas leituras!

O grande, Juan José Saer
Editora Companhia das Letras

 

 


Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.

Foto capa de Juan José Saer (www.companhiadasletras.com.br)
Foto mídia: Divulgação Companhia das Letras
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