Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti

É difícil dizer com certeza se o amor é cômico ou trágico. Situação paradoxal na qual nos coloca nossa própria vida: quando amamos somos palhaços no palco ou somos heróis em ruínas?

Alguns filósofos nunca viram graça em amar. Sempre enxergaram no amor um perigo real para a felicidade – uma caixa de Pandora enviada pelos deuses para nos castigar. Expressão de tormentos afetivos, expectativas impossíveis, perda da razão e escolhas insensatas para vida. Tudo em nome de um impulso carnal que deseja, de maneira insistente, ser consumado. Para quem pensa deste modo, o amor é uma tragédia para quem ama.

Mas o efeito colateral das dores do amor são os momentos de riso que ele nos proporciona. Nada nos alegra mais do que contemplar um bobo apaixonado. E nada melhor do que sentir-se como este bobo apaixonado. A ansiedade afetiva nos produz cócegas, borboletas no estômago. Rimas sem motivo aparente: somo clowns, palhaços nonsense. E vemos nas estratégias de conquista para atrair a pessoa amada as mais sublimes ironias da razão. Reconhecemos que as primeiras conversas, ou abordagens, de aproximação revelam o quanto somos ridículos quando amamos: questões fúteis são levadas a sério e questões sérias satirizadas. “Papo-furado”, “conversa mole”, que busca sentido no encontro amoroso.

Entre choros e risos, o amor segue existindo como oposição de contrários. Amar é um masoquismo alegre para aqueles que amam.


Miniensaios de Filosofia, volume: Amor, Existência & Morte, cap. XVI, editora Vozes, 2013.

Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]

Foto de Dawin Rizzo/Unsplash
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