Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
Pensar parece uma das atividades mais íntimas que um ser humano pode ter. Porém, tal sensação é um engano gerado pelos limites restritos de nossa razão. Nossa mente é fruto de um coletivo.
Muitas vezes nos pegamos desconfiados de pessoas queridas, cogitamos adultérios, sonhamos em ser heróis ou imaginamos agredir nossos desafetos. Pensamentos íntimos, que parecem surgir inteiramente, porque a consciência que nos controla também surge como uma voz mental, uma conversa “pessoal” reprovada. Afinal, todo pensamento é linguagem. Desafiamos os que não concordam a pensarem sem usar palavras.
Se o pensamento é linguagem, então ele não é inato. Surge da educação. Daqueles que nos ensinaram a falar. Dos que nos ajudaram a construir frases com sentido. Palavras são símbolos, remetem a valores socialmente aceitos: água é bom, fezes é sujo, brigar é feio, trabalhar é importante.
As letras e seus sentidos são construções ideológicas naturalizadas e defendidas por uma comunidade. A forma de pensar, valorar e dar sentido transcende nossas experiências pessoais. Precisamente, pensamos o mundo dentro das estruturas de uma razão que nos foi imposta pela cultura.
O pensar não é individual, nem tampouco íntimo. Nossa razão é um produto ideológico para além de nossa capacidade de percepção. Toda razão que se apresenta pessoal, singular, é fruto de uma ilusão que ignora sua origem.
Miniensaios de Filosofia, volume: Desejo, Vontade & Racionalidade, capítulo XXVI, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
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