Por Anderson Borges Costa

Você já ouviu alguém dizendo que “A minha vida daria um livro”? Isso geralmente é dito para enfatizar que uma vida carrega muitas emoções, muito sofrimento, muito ganha e perde, reviravoltas e superações. Nesta coluna, vou comentar sobre um livro que traz 11 narrativas curtas, 11 contos nos quais a vida se revela por meio de atos cotidianos que seriam capazes de virar… um livro. A vida cabe em 11 histórias de Aquela água toda, do autor João Anzanello Carrascoza.

Carrascoza é um profissional multifacetado, e as histórias em Aquela água toda espalham-se por situações inusitadas. O escritor é descendente de espanhóis e italianos, redator publicitário, professor na Escola de Comunicações e Artes da USP e docente no programa de pós-graduação em Práticas de Consumo na ESPM. Assim como Carrascoza, as 11 histórias neste livro capturam diversas facetas humanas.

Os 11 contos de Aquela água toda poderiam ser comparados à escalação de um time de futebol. Mas vou deixar a você, leitor, a tarefa de técnico: decida em que posição (goleiro, defesa, meio de campo, ataque) cada conto deveria ocupar no gramado literário deste livro.

Em uma das narrativas, chamada “Medo”, um garoto solitário e inseguro, sem amigos na escola, conhece um menino grande e forte, o Diego, que, no recreio, pede uma mordida no sanduíche do primeiro. Agradecido, Diego promete que vai proteger o garoto inseguro e o defende na escola. Mas ele cobra um preço pela ajuda. A amizade de Diego se transforma em bullying. E o garoto se vê preso em uma arapuca.

Em outra história, cujo título é “Cristina”, um adolescente descobre o que é estar apaixonado. E, no cinema, com a garota que ainda não sabe de sua paixão, arrisca movimentos inseguros, como segurar sua mão ou dar-lhe um beijo. No conto que dá título ao livro, “Aquela água toda”, lemos a história de um menino que encontra o mar. Aliás, você se lembra da primeira vez que viu o mar? Se conseguir se lembrar, terá certamente a recordação de uma grande emoção. E o bacana deste livro é a linguagem criada por Carrascoza. Veja como são saborosas estas passagens: “A noite descia, e mais grossa se tornava a casca de sua felicidade”/ “Ignorava que a vida tinha a sua própria maré”/ “O mar existia dentro de seu sonho, mais do que fora”/ “O menino, último da fila, respirava fundo a paisagem, o aroma da maresia, os olhos alagados de mar, aquela água toda”.

Em 11 contos, Aquela água toda nos oferece um mar de situações nas quais precisamos saber nadar para não afundarmos. E sentimos que este oceano segue nos banhando até hoje. Bom mergulho e boas leituras!

Aquela água toda, João Anzanello Carrascoza
Editora Companhia das Letras

 

 

 


Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.

Foto de Mink Mingle/Unsplash
Foto livro: Divulgação
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