Por Clóvis de Barros Filho

Observar-se permite conhecer-se.
E conhecer-se exige esquecer-se de si mesmo.
Perceber-se iluminado, a cada instante, por tudo que existe.
Mas nenhuma luz permanece.
Tornando toda definição de si impossível.
Resta aceitar que não somos.
Porque não há ser no que já vai deixando de ser.
Tampouco no que ainda vem a ser.
Regozijemo-nos, pois.
Afinal, essa nossa falta de ser é vazio que nos arremessa na vida.
Livres.
Fôssemos algo, teríamos que prestar contas.
Viver de acordo.
Nada sendo, nem o céu é limite.
Evaporam-se as desculpas.
Negociamos com as forças do mundo as nossas.
Buscamos potência a cada passo.
Alegria a cada encontro.
Esforçamo-nos por seguir.
Inventando, criando e improvisando.
Sem muletas ressentidas.
Só então vivemos.
Sem os freios de fora.
Humanamente.

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