Por Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
A razão é o enfrentamento do desejo. Egoístas que somos, desejamos sem medida e com coragem. Para atingir os objetivos — e os objetos — de nosso desejo, nos permitimos tudo. Ao encontrarmo-nos com um poder sem limites, perdemos as rédeas e ultrapassamos todas as velocidades. Quem impede que sejamos violentos na corrida de nossos desejos é nossa racionalidade. Usamos a razão como freio. Se nossa postura desejosa nos coloca em conflito com outros e com o mundo — já que tudo podemos ao desejar — iremos, no egoísmo de uma vontade sem controle, ultrapassar os limites do outro. Neste estado conflitivo entre desejos, ou de guerras por objetos desejados, não há tranquilidade para usufruir daquilo que conquistamos, pois tão logo alcancemos nossas metas, outro virá para usurpá-las.
A razão nos mostra então uma saída: nesse cenário de incertezas precisamos entrar num acordo com todos os outros que conosco habitam. O medo de perder o que amamos e de nos perder, inclusive perdendo nossa própria vida, faz com que raciocinemos em direção a um contrato, em que respeitemos os desejos e os objetos de desejo dos outros. De acordo com o filósofo Hobbes, racionalidade e medo estão na base da formaçãoda sociedade. Nosso medo não é não alcançar os nossos objetivos: o que tememos é não poder descansar com segurança após ter chegado ao fim da viagem.
Miniensaios de Filosofia, volume: Desejo, Vontade & Racionalidade, capítulo I, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
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