Por Anderson Borges Costa
A literatura se faz pelo lado de dentro e pelo lado de fora. A literatura se faz na frente das câmeras, com a escrita dos enredos de livros, contos, poemas. Mas ela também existe em seu lado menos aparente, nos bastidores, feita por escritores sobre os próprios escritores. A literatura é a ficção que autores reais criam. Mas é também a realidade que os ficcionistas inventam.
Um dos maiores escritores do século XX, Ernest Hemingway, vencedor do Prêmio Nobel, viveu uma intensa jornada em uma vida de 60 anos, quando decidiu se suicidar. Além de romances e contos, Hemingway nos deixou de presente um relato de sua juventude, quando passou um tempo vivendo em Paris, nos anos 1920. Ele registrou essa fase na França do pós-Primeira Guerra Mundial no livro Paris é uma festa.
É em seu estilo econômico e seco que Hemingway relata os anos em que viveu em Paris, quase sempre em bares, quase sempre com muito pouco dinheiro, com sua esposa, com seu filho, escrevendo colunas para revistas e jornais que lhe pagavam o suficiente para que ele pudesse frequentar esquinas etílicas nas quais encontrou grandes escritores e artistas que também passavam um tempo na capital francesa, em um período de grande inquietação cultural.
Neste livro, somos apresentados a pessoas influentes que ele encontrou na França e cuja obra merece ser conhecida, como a escritora Gertrude Stein (com quem ele aprendeu muito, embora mais tarde tenha se desentendido com ela), o poeta e crítico americano Ezra Pound (que faz a interessante revelação de que nunca lera nenhum autor russo) e o escritor e grande amigo Scott Fitzgerald e sua esposa Zelda Fitzgerald, que Hemingway critica, em uma espécie de defesa do amigo. O livro é escrito sempre do ponto de vista de Hemingway, com o sabor das bebidas que ingere, com a cor da insegurança típica de um jovem talentoso.
Como um livro que se lê do outro lado do espelho, nos bastidores de uma página em branco, este Paris é uma festa é uma celebração à literatura, um convite para mais um gole escrito com entusiasmo.
Boas leituras!
Paris é uma festa (A Moveable Feast, 1964)
Tradução: Ênio Silveira
Editora: Bertrand Brasil
Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.