Texto | Arthur Meucci e Flávio Tonnetti
Ao desejar da razão chamamos vontade. Desejar com instinto é algo próprio do corpo, mas desejar com o pensamento é o que costumeiramente tratamos pelo nome de vontade. É como se existissem dois tipos de desejo: um que medita e um que não pensa.
Se por um lado o desejo irracional é capaz de nos trair, a vontade nos revela aquilo que somos, aquilo que sentimos verdadeiramente e qual é o caminho melhor ao qual devemos aderir. A vontade, ao contrário do desejo, procura preservar nossa integridade. Isto porque a vontade é um desejo que não nasce do impulso, mas da compreensão dos fatos. O caminho é mais seguro para quem tem por guia a vontade.
Ter vontade é desejar com o pensamento. E é por isso — porque a razão não nos pode enganar — que a realização da felicidade dependerá sempre da realização de vontades meditadas. Nem sempre os desejos do corpo vão nos satisfazer em nossa plenitude. Muitas vezes vão nos colocar em perigo, ameaçar nossas vidas, comprometer a existência. Os desejos podem por vezes nos lançar para além da linha, para o fundo do abismo ou para um destino sem volta. O desejo não nos impõe limites.
Já a vontade, tendo determinado os fins, pode realizar-se através da boa observância dos meios. Não nos conduz aonde não queremos ir, não nos desafia para além de nossas forças. Ao lado de nossa vontade somos livres. Livres para desejar o que nós mesmos nos impomos.
Miniensaios de Filosofia, volume: Desejo, Vontade & Racionalidade, cap. XIV, editora Vozes, 2013.
Arthur Meucci
Bacharel, Licenciado Pleno e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Extensão em Filosofia do Cinema pelo COGEAE/PUC. Possuí formação em Psicanálise; Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Flávio Tonnetti
Bacharel e mestre em Filosofia pela USP, doutor em Educação pela mesma instituição, com tese sobre educação e tecnologia.
Professor da Universidade Federal de Viçosa.
contato: [email protected]
Diagramação | RONALDO CAMPOS
Foto Davidson Luna/Unsplash
