Entrevistado: José Leite Lopes
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas Rio de Janeiro|RJ|Brasil
Entrevistadora: Carolina Cronemberger
Diagramação e adaptação de Ronaldo Campos

José Leite Lopes nasceu no Recife, em 1918, numa família de comerciantes. Motivado pelas possibilidades de trabalhar em usinas de açúcar e na indústria, optou por fazer Química. Em 1939 terminou o curso de Química Industrial em Pernambuco, mas antes mesmo de se formar, por influência de Luiz Freire, seu professor de física durante a faculdade, resolveu se mudar para o Rio e fazer o curso de Física. Segundo Leite Lopes, Luiz Freire foi decisivo para sua escolha pela física. “Esse era um professor extraordinário!”, conta, “Ele conhecia muito a Física e a Filosofia e tinha o dom de dar aulas, com isso nos atraía muito. Foi ele quem despertou em mim o interesse pela Física”. Para Leite Lopes, a forma como um assunto é apresentado é determinante para que ele consiga motivar o aluno. No seu caso, isso foi decisivo; ele reconhece que, muitas vezes, a Física é mal ensinada para os alunos, em todos os níveis: “Trabalhos de iniciação científica são importantes, mas também é preciso que os cursos sejam dados por físicos que realmente gostem da matéria”, diz.

Em 1942, após terminar o curso de Física, na Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro, atual UFRJ, foi fazer o doutorado em Princeton, nos Estados Unidos, com Wolfgang Pauli, prêmio Nobel em 1945 e um dos pais da Mecânica Quântica. Sua pesquisa foi principalmente dedicada à Física de Partículas. Leite Lopes participou da previsão, em 1958, da existência de uma partícula chamada bóson Zo, que só foi observada experimentalmente em 1980. Nos Estados Unidos, assistia a seminários de Einstein, trabalhou com Feynman e Robert Oppenheimer, entre outros grandes nomes da Física.

Em 1946 terminou o doutorado e, três anos depois, junto com mais alguns colegas, fundou, no Rio de Janeiro, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), do qual foi diretor por duas vezes (1960-64 e 1985-89). Sobre esta época ele conta: “No início havia muitas dificuldades. O João Alberto (Lins de Barros, ministro na ocasião) dava dinheiro do próprio bolso para sustentar a instituição”.

Leite Lopes considera a falta de financiamento uma das grandes dificuldades da carreira científica no Brasil, e acrescenta, ainda, que a forma como o financiamento é empregado também deve ser mudada. Os recursos devem ser aplicados principalmente no desenvolvimento e não para a simples compra de tecnologia importada. Esta postura política o acompanha até mesmo nas suas decisões pessoais, como quando teve que decidir em que país moraria ao ser cassado pelo regime militar brasileiro.

Em 1960 foi convidado a ser diretor do CBPF. Em 1964, com o golpe militar, Leite Lopes pediu demissão da diretoria e saiu do país, mas não aceitou o convite para que fosse embaixador nos Estados Unidos simplesmente por não concordar com a política americana em relação ao Brasil. Acabou indo para a França. Atendendo o pedido de estudantes, em 1967, aceitou voltar. Até hoje mantém uma relação muito próxima com os estudantes. Em 1969, foi cassado e aposentado compulsoriamente pelo regime militar. Só voltou a morar no Brasil em 1985. Convidado a ser novamente diretor do CBPF, Leite Lopes se envolveu em diversas questões políticas para melhorar a situação da pesquisa e do ensino no país. Sua atuação foi fundamental para que fosse criado o regime de dedicação exclusiva nas universidades, o que permitiu a pesquisadores se dedicarem mais às suas atividades e ajudou na criação e manutenção de centros de pesquisas dentro delas. Além disso, ajudou a criar um programa que incentiva os cientistas a irem às escolas, aproximando a pesquisa acadêmica dos alunos do ensino médio. Foi, por diversas vezes, ele mesmo explicar fundamentos de Física para esses estudantes.

Em seu escritório no CBPF, além de alguns dos quadros que pinta e dos livros que escreveu principalmente sobre política científica, Leite Lopes conta que guarda correspondências, escritos e seus cadernos, que, garante, são impecáveis. Diz que está sempre disposto a mostrá-los. Sua trajetória profissional acompanha a história da Física no Brasil. Desde o tempo em que se fazia Física em pequenos laboratórios, aos modernos centros de pesquisa de hoje em dia, Leite Lopes sempre esteve atento e preocupado com o avanço da ciência no Brasil, como agente ou como incentivador dos alunos. “Os alunos não aprendem Física e Matemática porque os professores não ensinam direito. Se o professor desenvolver a capacidade didática, acaba atraindo o estudante naturalmente”.


Esta entrevista é de domínio público e tem por objetivo divulgar a ciência. Faz parte da coleção Algumas razões para ser um cientista que procura desmistificar e estimular o estudo da ciência, principalmente entre os jovens.

Foto de Product School/Unsplash
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