Por Anderson Borges Costa

Você já fez alguma aposta? Apostou em resultado de jogo, em corrida de cavalo, em bingo, roleta, buraco, loteria esportiva, loto? Possivelmente sim, mas é pouco provável que tenha feito a seguinte aposta com um amigo: casará com a primeira mulher que entrar no café onde se encontram. Pois é exatamente isso o que acontece no filme A História de Minha Esposa, que estreou este ano no Brasil. E, no filme, logo nas primeiras cenas, a aposta é cumprida.

À primeira vista, pode-se dizer que o apostador, o capitão da Marinha Jacob Störr, deu sorte. Quem entra no café é uma linda e jovem mulher, Lizzy (muito bem interpretada pela bela atriz francesa Léa Seydoux). Proposta de casamento feita, proposta aceita. O estranho evento muda radicalmente a vida do capitão Störr (interpretado pelo ator holandês Gijs Naber), que, antes solitário e descuidado, se apaixona perdidamente pela mulher e passa a sofrer com a suspeita de que ela lhe está sendo infiel.

O filme é narrado em sete partes, sete capítulos, possivelmente retirados do diário do melancólico capitão Jacob. A história começa no mar e termina no mar. Entre uma ponta e outra, a terra firme se mostra pouco firme para os pés de Jacob, que é atormentado pela beleza e pela suspeita de traição de sua mulher. O balanço do mar provoca enjoos no capitão. A beleza da mulher provoca dúvidas no capitão. Jacob Störr, em sua vida, é o capitão de um navio cujo destino ele desconhece, já que não consegue desvendar o misterioso e belo olhar de Lizzy. A linda esposa realça a insegurança do marido, que se vê mergulhado em uma melancólica dúvida que o desassossega em terra e no mar.

O filme é um tanto longo — são quase três horas em alto-mar, em alta dúvida, em alta beleza. A trilha sonora traz um Bach que martela a dúvida e a beleza. Mas o tempo na frente da tela passa rápido, pois o filme é esteticamente interessante. Vale a pena apostar neste drama. Segure-se no sofá, pois cinema é movimento.

A História de Minha Esposa (Alemanha, França, Hungria e Itália, 2021)
Direção: Ildikó Enyedi
Elenco: Léa Seydoux e Gijs Naber

Clique AQUI e assista ao trailer oficial.


Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.

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