Por Anderson Borges Costa
 
A distância é um conceito que pode ser definido como o espaço entre dois corpos. É, portanto, a separação. No entanto, a distância pode também ser entendida como o comprimento do segmento de reta que liga dois pontos. Nesse sentido, é a conexão. A distância, que ora aproxima o protagonista de seu país natal, o caótico México, e ora o afasta, levando-o ao organizado mas estrangeiro país chamado Estados Unidos, é o tema da bela autobiografia cinematográfica do premiado diretor mexicano Alejandro Iñárritu, em cartaz na Netflix, Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades.

Iñárritu poderia ter escolhido o caminho fácil de contar a história de sua própria trajetória profissional e pessoal de maneira direta e próxima da verdade com um enredo em que abordasse o seu início na TV mexicana, os primeiros filmes em seu país, o sucesso internacional, os prêmios e a fama. Essa seria a visão da distância que aproxima a obra da verdade que ela carrega.

Porém, Iñárritu não se satisfaz em aproximar a câmera de sua visão empírica. Ele dá um zoom narrativo e afasta a verdade para uma história mágica, poética e onírica, que brinca com a metalinguagem, que é uma linguagem distante da verdade, embora seja a verdade em si mesma.

Tudo cabe em Bardo: a vida do cineasta de meia-idade bem-sucedido, mas em crise existencial, com uma família mexicana que se reconhece como americana, que enxerga no México um país de contrastes incontornáveis, distantes e próximos da verdade, a dor da perda do filho, a vida, que são as letras dos créditos iniciais e também as letras que informam a chegada da morte em THE END.

Um filme é maior que a vida, que distrai, que atrai, que trai. Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades é a vida brincando de ser um filme. Segure-se no sofá, pois cinema é movimento.

Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades (México, 2022)
Direção: Alejandro G. Iñárritu
Elenco: Daniel Giménez Cacho, Griselda Siciliani, Ximena Lamadrid

Clique AQUI e assista ao trailer oficial


Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.

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