Por Ronaldo Campos

Recentemente li uma matéria na revista piauí, com ‘p’ minúsculo mesmo, publicada na edição nº 185, de fevereiro de 2022. A reportagem é sobre o maior empresário da música sertaneja brasileira, Wander Oliveira, um goiano de 52 anos. Se ele tivesse nascido nos Estados Unidos seria um perfeito representante do self-made man.

Sem formação universitária, Wander aprendeu com a vida a identificar excelentes oportunidades de negócios. Hoje, a empresa dele chega a faturar 1 bilhão de reais por ano. Seu maior trunfo é Marília Mendonça, a Rainha da Sofrência (músicas que falam das amarguras do amor). Só ela faturava entre 10 e 12 milhões de reais por mês. Mas, infelizmente, em 5 de novembro de 2021, ela e os ocupantes de um pequeno avião bimotor morreram num acidente.

Antes de construir seu império, Wander enfrentou todos os tipos de dificuldades que um trabalhador não qualificado enfrenta: baixa remuneração, trabalho extenuante, repetitivo, baixa perspectiva de ascensão profissional etc. Porém, movido por um tino comercial para poucos, ele soube aproveitar as oportunidades que apareceram em sua vida. Sempre atento ao seu instinto, Wander resume suas decisões profissionais em três palavras: “Aí tem coisa!”. Claro que também contou com alguns momentos de sorte, mas isso não bastaria para transformá-lo no empresário que ele é hoje.

Empreender não é fácil, já que muitas variáveis entram em cena, mas isso não impede que uma onda de resignados — trabalhadores que saíram de seus empregos sem nenhum motivo aparente — venha tomando conta do mundo dos negócios, em especial nos Estados Unidos. Esse fenômeno já chegou ao Brasil e tem motivado mais de meio milhão de trabalhadores, nos últimos meses, a sair de seus empregos e se aventurar no empreendedorismo.

Estudos apontam que são três os motivos que levam as pessoas a pedir as contas: 1) buscar uma qualidade de vida melhor; 2) ganhar mais dinheiro; e 3) ter um ambiente de trabalho melhor. Os mais resignados são, justamente, os trabalhadores menos qualificados — como Wander Oliveira — e, em sua grande maioria, trabalham na área de serviços. Em primeiro lugar estão os operadores de telemarketing, auxiliares de logística, atendentes de lanchonete, analistas de pesquisa de mercado, cobradores internos e por aí vai¹. Todos eles sonhando em empreender.

Só de dezembro de 2021 para janeiro deste ano, os pedidos de abertura de empresa aumentaram em 76%, quase dobrando em apenas um mês. Em sua grande maioria, são homens na faixa dos 39 anos que sonham em ter seu próprio negócio, em enriquecer, em ter mais qualidade de vida, em poder mandar e não mais ser mandado, em deixar de ser coagido, em deixar de conviver com o fantasma da demissão e, finalmente, entre tantos outros motivos dos resignados, em parar de dissimular uma “simpatia” pelo chefe.

Os futuros empreendedores devem estar extremamente atentos às diferenças entre um impulso de reagir à resignação, que os leva a empreender, e um impulso verdadeiramente empreendedor, motivado pelo tino comercial. São energias, impulsos completamente diferentes. Lançar-se no mercado apenas para reagir a algum tipo de resignação costuma não dar certo. Infelizmente, o mercado não premia apenas desejos, sonhos, boas intenções ou simplesmente a vontade de vencer na vida. É preciso ter muito mais do que isso! É preciso ter estratégia, conhecimento da área de atuação, habilidades nos relacionamentos, visão etc. E até sorte, por que não?

Oxalá houvesse uma fórmula mágica ou uma receita pronta para transformar qualquer pessoa num empreendedor de sucesso. Os gurus de plantão vendem essas “fórmulas”, mas se de fato funcionassem, todos nós seríamos um Wander da vida. O certo é que até o momento nenhum guru provou que seguir os passos 1, 2, 3… garante o sucesso profissional. Como não há nenhuma fórmula mágica ou receita pronta que transforme em sucesso um sonho profissional, seguimos mantendo um olho na resignação e outro no “Aí tem coisa!”.


¹ Fonte: Você S/A, fevereiro de 2022.

Share: