Por Gustavo Dainezi

Do ponto de vista da ética, em seu sentido científico, toda ação humana tem três momentos, assim como a nossa divisão do tempo. Se de maneira geral pensamos nos conceitos “antes, durante e depois”, na ética os correspondentes são a deliberação, a ação em si e, por fim, as suas consequências.

Deliberar é o que o ser humano faz como atividade principal, isso todos nós sabemos. Da hora em que acordamos e já balbuciamos fragmentos de ideias, tais como “relatório hoje”, ou então “maquiagem para a reunião no Zoom”, ou ainda “acabou o leite”, até a hora de dormir, quando, ainda elétricos, viajamos mentalmente em planos e projetos multidimensionais enquanto a insônia e a ansiedade não nos libertam de suas garras.

Se houvesse uma característica que pudesse definir a humanidade sem margem a dúvidas, seria esta: pensar para agir. Carregamos nossas vidas inteiras nesse traço de nossa natureza.

E, de tanto pensar, raramente nos perguntamos como fazemos isso. Se o que faz avançar do passado para o presente e deste para o futuro é a percepção da passagem do tempo, o que faz avançar da deliberação para a ação é uma escolha, e da ação à consequência, a materialidade de nossos atos. O que é uma ação quase todo mundo sabe, então vamos explicar o que é uma escolha.

Para que haja escolha, em primeiro lugar, é preciso falar em liberdade. Sem liberdade, não há escolha. Então, toda ação ética é LIVRE. Se falta uma, falta a outra, automaticamente. Em toda escolha também é evidente que existe um julgamento. A escolha é a vitória de uma opção sobre a outra. O julgamento, por sua vez, se baseia em valores, que indicarão qual caminho seguir.

Resumindo, deliberar é escolher usando valores.

Sendo impossível agir livremente sem usar valores para escolher, a conclusão inevitável é que nossas ações são a repercussão imediata dos nossos valores. Assim, uma pessoa com valores egoístas se comportará de maneira egoísta, enquanto outra que se guiar por valores humanitários terá uma postura correspondente.

Os valores vão desde o respeito, a sinceridade, a franqueza, a generosidade, a coragem — que ocupam, junto com tantos outros, o grande grupo das virtudes morais, valores que promovem a união e a harmonia entre humanos — até os vícios, valores que atordoam a harmonia e o bem-estar geral, tais como o egoísmo, o interesse, a dissimulação, o ódio, o ciúme, a mentira, a preguiça.

Assim, nossos valores nos definem enquanto seres morais. Conhecer quem somos e por que agimos passa, portanto, por uma análise minuciosa dos valores que usamos como critérios para agir diariamente.

Depois de ler este texto, você é capaz de listar os principais valores que guiam a sua vida? Faça o exercício de, sempre que tomar uma decisão, nomear o valor que te guiou. Isso te dirá muito sobre quem você é.

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