Adaptação: Ronaldo Campos

Reproduzimos parte da entrevista realizada pela BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC, que conversou com o cientista Venki Ramakrishnan sobre questões relacionadas à deterioração das células e as implicações que vidas mais longas têm para a humanidade.

Venki Ramakrishnan, 71 anos, ganhou em 2009, juntamente com Thomas A. Steitz e Ada E. Yonath, o Prêmio Nobel de Química pela investigação sobre ribossomos, a estrutura celular responsável pela produção de proteínas, que são as moléculas que tornam possível a vida de todos os organismos.

BBC – O que é o envelhecimento? Em que consiste esse processo no ser humano?

Venki Ramakrishnan – Uma das principais causas do envelhecimento é o acúmulo de danos aos genes do nosso DNA.

A informação mais valiosa que os genes carregam é como produzir proteínas.

Em nível celular, as proteínas realizam milhares de reações químicas que tornam a vida possível. Eles dão forma e força ao nosso corpo, mas também permitem a comunicação entre as células.

Graças a elas temos nossos sentidos. E nosso sistema nervoso depende deles para transmitir sinais e armazenar nossa memória.

Nossos anticorpos são proteínas, e são elas que permitem à célula produzir as moléculas que necessita, incluindo gorduras, carboidratos, vitaminas, hormônios e os próprios genes.

Portanto, o envelhecimento tem muito a ver com a perda da capacidade do nosso corpo de regular a produção e destruição de proteínas nas células.

Podemos ver isso como um acúmulo de danos químicos nas nossas moléculas, células, tecidos e, finalmente, em todo o nosso corpo.

É um processo gradual, desde o momento em que nascemos. Antes mesmo já estamos envelhecendo, mas desde cedo não sentimos isso porque estamos crescendo, estamos nos desenvolvendo.

Depois, com o passar dos anos, os sintomas tornam-se mais evidentes e quando os sistemas críticos começam a falhar, o corpo não consegue funcionar como um todo unificado… E é isso que leva à morte.

O interessante da morte é que, quando morremos, a maior parte das nossas células ainda está viva — razão pela qual os nossos órgãos podem ser doados — mas já não são capazes de funcionar como um todo. Isso é a morte.

BBC – No seu livro o senhor menciona que na biologia tudo é explicado à luz da evolução. Do ponto de vista evolutivo, por que envelhecemos e morremos?

Ramakrishnan – Porque a evolução não se preocupa conosco como indivíduos.

A evolução trata basicamente da capacidade de transmitir genes. E esses genes não residem no vácuo, residem num indivíduo.

Portanto, desde que você seja capaz de crescer, procriar e garantir que sua prole atinja a idade reprodutiva, a evolução não se importa com o que acontecerá a você, porque você já transmitiu seus genes.

É verdade que os nossos organismos poderiam investir mais esforços na prevenção do envelhecimento, ou em ter melhores mecanismos para se repararem, mas do ponto de vista evolutivo é mais eficiente garantir que cresçamos mais rapidamente e possamos reproduzir-nos para transmitir os nossos genes.

É um equilíbrio que varia em cada espécie.

Por exemplo, numa espécie que vive sob alto risco de ser comida por um predador, não faz sentido que o seu organismo evolua para viver muitos anos, porque é muito provável que seja comido a qualquer momento.

Nos mamíferos, as espécies maiores tendem a ter um ciclo de vida mais longo do que as menores.

Nisto, porém, há uma curiosa exceção: ratos e morcegos pesam quase o mesmo, mas os morcegos têm um ciclo de vida muito mais longo que os ratos.

Por quê? Porque eles podem voar; portanto, eles são menos vulneráveis ​​aos predadores.

BBC – Há muito esforço e muito dinheiro em ciência e tecnologia que visa retardar o envelhecimento, mas no seu livro você deixa claro que existem outras formas de se manter saudável que estão muito mais ao nosso alcance…

Ramakrishnan – Comer bem, dormir bem e fazer exercício são atualmente mais eficazes do que qualquer medicamento antienvelhecimento existente no mercado.

E não têm efeitos colaterais, além de terem uma base biológica sólida contra o envelhecimento.

O ser humano não evoluiu para comer em abundância, sobremesas e coisas assim.

Nossa espécie começou como caçadores e coletores. Comíamos esporadicamente, jejuávamos naturalmente e tínhamos a restrição calórica que mencionei antes.

Mas agora comemos mesmo quando não temos fome, e no Ocidente vemos um enorme aumento da obesidade.

Vamos falar sobre exercício. Hoje vivemos uma vida sedentária em relação aos nossos antepassados, que eram agricultores, caçadores, trabalhadores manuais.

E sobre o sono, muitas vezes subestimamos a sua importância, mas ele é extremamente valioso para os mecanismos de reparação do nosso corpo.

Colocar em prática essas dicas antigas nos ajuda a manter a massa muscular, regular a função mitocondrial, a pressão arterial, o estresse e a reduzir o risco de demência.

O problema é que nem sempre é fácil segui-los. Às vezes, as pessoas preferem apenas tomar uma pílula e viver suas vidas da maneira que desejam. Essa é a parte que temos que superar.


Clique AQUI para ler a entrevista completa da BBC News Mundo
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3g0q0pd7n1o

Venki Ramakrishnan é autor do livro Why We Die: The New Science of Aging and The Quest for Immortality (em tradução livre, “Por que Morremos: A Nova Ciência do Envelhecimento e a Busca pela Imortalidade”), que será publicado em março, em inglês

Foto de capa: Warren Umoh/Unsplash

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