Por Anderson Borges Costa
Você já assistiu a um filme no qual, após metade da história, percebe que o personagem não é quem você pensava que fosse? Se já viu, deve ter tido a sensação de que levou uma rasteira do enredo, e isso é chamado de reviravolta na história. Se quiser experimentar esse impacto, você terá uma bela oportunidade assistindo ao coreano Old Boy, capaz de deixar qualquer um “chapado” após a cena final.
O falastrão Oh Dae-su (interpretado pelo ótimo ator Choi Min-sik), casado e pai de uma jovem menina, se vê vítima de uma emboscada que o deixa preso no quarto de um hotel durante 15 anos. Ninguém fala com ele, ninguém o vê. No quarto, uma TV e uma cama. Por baixo da porta, um prato de comida é empurrado todos os dias. À noite, uma fumaça invade o quarto, e ele dorme. Ao acordar, percebe que cortaram seu cabelo, deram-lhe injeções e sabe-se mais o que fizeram com ele durante seu sono induzido. O desconforto por parte do protagonista (e de nós, espectadores) é que ele não sabe o motivo de ter sido sequestrado e preso durante todos esses anos. Sem a menor explicação, após uma década e meia preso nesse quarto sujo, ele é solto. A liberdade, após o estranho encarceramento, é o início de seu maior sofrimento.
Na rua, Oh Dae-su quer entender o que houve, por que foi preso, por que foi separado de sua família. E quer se vingar de quem fez isso com ele. A vingança é o grande mote deste Old Boy, que é a segunda parte da trilogia da vingança, do diretor coreano Park Chan-wook.
Na rua, livre, Oh Dae-su entra em um restaurante japonês, devora um polvo vivo (uma cena para quem tem estômago forte), conhece a bela chef Mi-do (interpretada por Kang Hye-jung) e revê seu cunhado Lee Woo-jin (Yoo Ji-tae). Entre cenas eletrizantes de luta, Old Boy, um clássico neo-noir, é, no mínimo, uma bela surpresa. Com referências a Freud e a Kafka, é impossível ver este filme sem soltar uma interjeição no final. A rasteira é muito bem dada. A reviravolta é sem volta. Segure-se no sofá, pois cinema é movimento.
Old Boy (Coreia do Sul, 2003)
Direção: Park Chan-wook
Elenco: Choi Min-sik, Kang Hye-jung e Yoo Ji-tae
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Anderson Borges Costa
Formado e pós-graduado em Letras (Português/Inglês/Alemão) pela Universidade de São Paulo. Professor de Português e Literatura na Escola Internacional St. Nicholas. Escritor, autor dos romances Professoras, Rua Direita e Avenida Paulista, 22, do livro de contos O livro que não escrevi e de peças teatrais.